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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O MUNDO PERCEBIDO 397<br />

Quando quero passar dessa interrogação a uma afirmação e,<br />

afortiori, quando quero exprimir-me, faço cristalizar em um<br />

ato de consciência um conjunto indefinido de motivos, torno<br />

a entrar no implícito, quer dizer, no equívoco e no jogo do<br />

mundo 82 . O contato absoluto de mim comigo, a identi<strong>da</strong>de<br />

do ser e do aparecer não podem ser postos, mas apenas vividos<br />

aquém de qualquer afirmação. Portanto, em ambas as<br />

partes é o mesmo silêncio e o mesmo vazio. A experiência<br />

do absurdo e a <strong>da</strong> evidência absoluta implicam-se uma à outra<br />

e são até mesmo indiscerníveis. O mundo só parece absurdo<br />

se uma exigência de consciência absoluta dissocia a ca<strong>da</strong><br />

momento as significações <strong>da</strong>s quais ele formiga e, reciprocamente,<br />

essa exigência é motiva<strong>da</strong> pelo conflito dessas significações.<br />

A evidência absoluta e o absurdo são equivalentes<br />

não apenas enquanto afirmações filosóficas, mas enquanto<br />

experiências. O racionalismo e o ceticismo alimentam-se de<br />

uma vi<strong>da</strong> efetiva <strong>da</strong> consciência que ambos hipocritamente<br />

subentendem, sem a qual eles não podem ser nem pensados,<br />

nem até mesmo vividos, e na qual não se pode dizer que tudo<br />

tenha um sentido, ou que tudo seja não-senso, mas apenas que há<br />

sentido. Como diz Pascal, as doutrinas, por pouco que as apertemos,<br />

formigam de contradições, e to<strong>da</strong>via elas tinham um<br />

ar de clareza, à primeira vista elas têm um sentido. Uma ver<strong>da</strong>de<br />

sobre fundo de absurdo, um absurdo que a teleologia<br />

<strong>da</strong> consciência presume poder converter em ver<strong>da</strong>de, tal é o<br />

fenômeno originário. Dizer que, na consciência, aparência<br />

e reali<strong>da</strong>de são um e o mesmo ou dizer que elas são separa<strong>da</strong>s<br />

é tornar impossível a consciência do que quer que seja,<br />

mesmo a título de aparência. Ora — tal é o ver<strong>da</strong>deiro cogito<br />

— existe consciência de algo, algo se mostra, há fenômeno.<br />

A consciência não é nem posição de si, nem ignorância de<br />

si, ela é não dissimula<strong>da</strong> a si mesma, quer dizer, nela não há<br />

na<strong>da</strong> que, de alguma maneira, não se anuncie a ela, se bem<br />

que a consciência não precise conhecê-lo expressamente. Na

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