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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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592 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

plexos que durante anos alimentei com minha complacência<br />

permanecem sempre tão anódinos, o gesto <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de pode<br />

sem qualquer esforço fazê-los voar em pe<strong>da</strong>ços em um instante.<br />

To<strong>da</strong>via, após ter construído nossa vi<strong>da</strong> sobre um complexo<br />

de inferiori<strong>da</strong>de continuamente retomado durante vinte<br />

anos, é pouco provável que mudemos. Vê-se muito bem o<br />

que um racionalismo sumário poderia dizer contra esta noção<br />

bastar<strong>da</strong>: não existem graus no possível, ou o ato livre<br />

não o é mais, ou ele o é ain<strong>da</strong>, e então a liber<strong>da</strong>de é inteira.<br />

Provável, em suma, não quer dizer na<strong>da</strong>. Esta noção pertence<br />

ao pensamento estatístico, que não é um pensamento, já<br />

que ele não concerne a nenhuma coisa particular existente<br />

em ato, a nenhum momento do tempo, a nenhum acontecimento<br />

concreto. "E pouco provável que Paulo renuncie a escrever<br />

maus livros", isso não quer dizer na<strong>da</strong>, já que, a ca<strong>da</strong><br />

momento, Paulo pode tomar a decisão de não mais escrevêlos.<br />

O provável está em to<strong>da</strong>s as partes e em parte alguma,<br />

ele é uma ficção realiza<strong>da</strong>, ele só tem existência psicológica,<br />

não é um ingrediente do mundo. To<strong>da</strong>via nós já o encontramos<br />

há pouco no mundo percebido, a montanha é grande ou<br />

pequena enquanto, como coisa percebi<strong>da</strong>, ela se situa no campo<br />

de minhas ações virtuais e em relação a um nível que não<br />

é apenas o de minha vi<strong>da</strong> individual, mas o de "todo homem".<br />

A generali<strong>da</strong>de e a probabili<strong>da</strong>de não são ficções, mas<br />

fenômenos, e portanto devemos encontrar um fun<strong>da</strong>mento<br />

fenomenológico para o pensamento estatístico. Ele pertence<br />

necessariamente a um ser que está fixado, situado e investido<br />

no mundo. "E pouco provável" que eu destrua agora mesmo<br />

um complexo de inferiori<strong>da</strong>de no qual me comprazi durante<br />

vinte anos. Isso quer dizer que eu me envolvi na inferiori<strong>da</strong>de,<br />

que a elegi como domicílio, que este passado, se<br />

não é uma fatali<strong>da</strong>de, pelo menos tem um peso específico,<br />

que não é uma soma de acontecimentos ali adiante, bem longe<br />

de mim, mas a atmosfera de meu presente. A alternativa

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