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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O MUNDO PERCEBIDO 3 71<br />

eu quem reconheço, em ca<strong>da</strong> um dos pontos e dos instantes<br />

atravessados, o mesmo pássaro definido por caracteres explícitos,<br />

é o pássaro, voando, que faz a uni<strong>da</strong>de de seu movimento,<br />

é ele que se desloca, é este tumulto plumoso ain<strong>da</strong><br />

aqui que já está ali em uma espécie de ubiqüi<strong>da</strong>de, como o<br />

cometa com sua cau<strong>da</strong>. O ser pré-objetivo, o movente nãotematizado<br />

não põem outro problema que o espaço e o tempo<br />

de implicação dos quais já falamos. Dissemos que as partes<br />

do espaço segundo a largura, a altura ou a profundi<strong>da</strong>de<br />

não são justapostas, que elas coexistem porque estão to<strong>da</strong>s<br />

envolvi<strong>da</strong>s no poder único de nosso corpo sobre o mundo,<br />

e essa relação já se iluminou quando mostramos que ela era<br />

temporal antes de ser espacial. As coisas coexistem no espaço<br />

porque estão presentes ao mesmo sujeito perceptivo e envolvi<strong>da</strong>s<br />

na mesma on<strong>da</strong> temporal. Mas a uni<strong>da</strong>de e a individuali<strong>da</strong>de<br />

de ca<strong>da</strong> vaga temporal só é possível se ela está<br />

espremi<strong>da</strong> entre a precedente e a seguinte, e se a mesma pulsação<br />

temporal que a faz jorrar retém ain<strong>da</strong> a precedente e<br />

contém antecipa<strong>da</strong>mente a seguinte. E o tempo objetivo que<br />

é feito de momentos sucessivos. O presente vivido encerra em<br />

sua espessura um passado e um futuro. O fenômeno do movimento<br />

não faz senão manifestar de uma maneira mais sensível<br />

a implicação espacial e temporal. Nós conhecemos um<br />

movimento e um movente sem nenhuma consciência <strong>da</strong>s posições<br />

objetivas, assim como conhecemos um objeto à distância<br />

e sua grandeza ver<strong>da</strong>deira sem nenhuma interpretação,<br />

e assim como a ca<strong>da</strong> momento sabemos o lugar de um acontecimento<br />

na espessura de nosso passado sem nenhuma evocação<br />

expressa. O movimento é uma modulação de um ambiente<br />

já familiar e nos reconduz, mais uma vez, ao nosso<br />

problema central, que é o de saber como se constitui este ambiente<br />

que serve de fundo a todo ato de consciência 47 .<br />

A posição de um móbil idêntico desembocava na relativi<strong>da</strong>de<br />

do movimento. Agora que reintroduzimos o movimen-

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