12.04.2013 Views

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

O MUNDO PERCEBIDO 443<br />

tar-se a nós se sua síntese nunca está acaba<strong>da</strong>, e se sempre<br />

posso esperar vê-la dissolver-se e passar à categoria de simples<br />

ilusão? To<strong>da</strong>via, existe algo e não na<strong>da</strong>. Existe o determinado,<br />

pelo menos em um certo grau de relativi<strong>da</strong>de. Mesmo<br />

se finalmente eu não conheço esta pedra absolutamente,<br />

mesmo se o conhecimento, naquilo que diz respeito a ela, vai<br />

pouco a pouco ao infinito e nunca se conclui, ain<strong>da</strong> é ver<strong>da</strong>de<br />

que a pedra percebi<strong>da</strong> está ali, que eu a reconheço, que<br />

eu lhe dei um nome e que nós nos entendemos sobre um certo<br />

número de enunciados a seu respeito. Assim, parece que<br />

somos levados a uma contradição: a crença na coisa e no mundo<br />

só pode significar a presunção de uma síntese acaba<strong>da</strong>,<br />

e to<strong>da</strong>via este acabamento é tornado impossível pela própria<br />

natureza <strong>da</strong>s perspectivas a ligar, já que ca<strong>da</strong> uma delas reenvia<br />

indefini<strong>da</strong>mente, por seus horizontes, a outras perspectivas.<br />

Com efeito, há contradição enquanto operamos no ser,<br />

mas a contradição cessa, ou antes ela se generaliza, une-se<br />

às condições últimas de nossa experiência, confunde-se com<br />

a possibili<strong>da</strong>de de viver e de pensar, se operamos no tempo,<br />

e se logramos compreender o tempo como a medi<strong>da</strong> do ser.<br />

A síntese de horizontes é essencialmente temporal, quer dizer,<br />

ela não está sujeita ao tempo, não se submete a ele, não<br />

precisa ultrapassá-lo, mas confunde-se com o próprio movimento<br />

pelo qual o tempo passa. Por meu campo perceptivo,<br />

com seus horizontes espaciais, estou presente à minha circunvizinhança,<br />

coexisto com to<strong>da</strong>s as outras paisagens que se estendem<br />

para além dela, e to<strong>da</strong>s essas perspectivas formam<br />

em conjunto uma única vaga temporal, um instante do mundo;<br />

por meu campo perceptivo com seus horizontes temporais,<br />

estou presente ao meu presente, a todo o passado que<br />

o precedeu e a um futuro. E, ao mesmo tempo, essa ubiqüi<strong>da</strong>de<br />

não é efetiva, ela é manifestamente intencional. A paisagem<br />

que tenho sob os olhos pode muito bem me anunciar<br />

a figura <strong>da</strong>quela que está escondi<strong>da</strong> atrás <strong>da</strong> colina, mas ela

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!