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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O SER-PARA-SI E O SER-NO-MUNDO 607<br />

posso rir de tudo, não há caso em que eu esteja inteiramente<br />

tomado: não é que agora eu me retire em minha liber<strong>da</strong>de,<br />

é que me envolvo alhures. Em lugar de pensar em minha dor,<br />

olho minhas unhas, ou almoço, ou me ocupo de política. Longe<br />

de que minha liber<strong>da</strong>de seja sempre solitária, ela nunca<br />

está sem cúmplice, e seu poder de arrancamento perpétuo se<br />

apoia em meu envolvimento universal no mundo. Minha liber<strong>da</strong>de<br />

efetiva não está aquém de meu ser, mas diante de<br />

mim, nas coisas. Não se deve dizer que eu me escolho continuamente,<br />

sob pretexto de que continuamente eu poderia recusar<br />

aquilo que sou. Não recusar não é escolher. Só poderíamos<br />

identificar permitir e fazer subtraindo ao implícito<br />

qualquer valor fenomenal e a ca<strong>da</strong> instante desdobrando o<br />

mundo diante de nós em uma transparência perfeita, quer<br />

dizer, destruindo a "mun<strong>da</strong>ni<strong>da</strong>de" do mundo. A consciência<br />

se considera responsável por tudo, ela assume tudo, mas<br />

propriamente ela não tem na<strong>da</strong> e faz sua vi<strong>da</strong> no mundo. Enquanto<br />

não se introduziu a noção de um tempo natural ou<br />

generalizado, somos conduzidos a conceber a liber<strong>da</strong>de como<br />

uma escolha continuamente renova<strong>da</strong>. Vimos que não há<br />

tempo natural, se se entende por isso um tempo <strong>da</strong>s coisas<br />

sem subjetivi<strong>da</strong>de. Mas há pelo menos um tempo generalizado,<br />

é exatamente ele que a noção comum do tempo visa.<br />

Ele é o recomeço perpétuo <strong>da</strong> consecução passado, presente,<br />

porvir. Ele é como uma decepção e um revés repetidos. É isso<br />

que se exprime dizendo que ele é contínuo: o presente que<br />

ele nos traz nunca é deveras presente, já que quando aparece<br />

ele já é passado, e só aparentemente o porvir tem o sentido<br />

de uma meta em direção à qual caminhamos, já que logo ele<br />

chega ao presente e já que agora nós nos dirigimos a um outro<br />

porvir. Este tempo é o de nossas funções corporais, que<br />

são cíclicas como ele, é também o <strong>da</strong> natureza com a qual<br />

coexistimos. Ele só nos oferece o esboço e a forma abstrata<br />

de um envolvimento, já que ele corrói continuamente a si mes-

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