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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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186 FEN0MEN0L0G1A DA PERCEPÇÃO<br />

pois elas supõem a mesma retoma<strong>da</strong> do exterior no interior<br />

e do interior pelo exterior. E, com efeito, se se narra uma<br />

história ao doente, constata-se que, em vez de apreendê-la<br />

como um conjunto melódico com seus tempos fortes, seus<br />

tempos fracos, seu ritmo ou seu curso característico, ele só<br />

a retém como uma série de fatos que devem ser notados um<br />

a um. É por isso que ele só a compreende se colocam pausas<br />

na narrativa e utilizam essas pausas para resumir em uma<br />

frase o essencial <strong>da</strong>quilo que lhe acabam de narrar. Quando<br />

por sua vez ele conta a história, nunca o faz segundo a narrativa<br />

que lhe fizeram (nacherzáhlen): ele não acentua na<strong>da</strong>, só<br />

compreende a progressão <strong>da</strong> história à medi<strong>da</strong> que a conta,<br />

e a narrativa é como que reconstituí<strong>da</strong> parte por parte 73 .<br />

Portanto, no sujeito normal há uma essência <strong>da</strong> história que<br />

se destaca à medi<strong>da</strong> que a narrativa avança, sem nenhuma<br />

análise expressa, e que em segui<strong>da</strong> guia a reprodução <strong>da</strong> narrativa.<br />

A história é para ele um certo acontecimento humano,<br />

reconhecível por seu estilo, e aqui o sujeito "compreende"<br />

porque tem o poder de viver, para além de sua experiência<br />

imediata, os acontecimentos indicados pela narrativa.<br />

De uma maneira geral, para o doente só está presente<br />

aquilo que é imediatamente <strong>da</strong>do. Como ele não tem a experiência<br />

imediata do pensamento do outro, este nunca lhe<br />

estará presente 74 . Para ele, as falas do outro são signos que<br />

ele precisa decifrar um a um, em lugar de ser, como no normal,<br />

o invólucro transparente de um sentido no qual ele poderia<br />

viver. Para o doente, as falas, assim como os acontecimentos,<br />

não são o motivo de uma retoma<strong>da</strong> ou de uma projeção,<br />

mas apenas a ocasião de uma interpretação metódica.<br />

Assim como o objeto, o outro não lhe "diz" na<strong>da</strong>, e os fantasmas<br />

que se apresentam a ele são desprovidos, sem dúvi<strong>da</strong>,<br />

não dessa significação intelectual que se obtém pela análise,<br />

mas dessa significação primordial que se obtém pela coexistência.

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