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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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480 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

te aqui um solipsismo vivido que não é ultrapassável. Sem<br />

dúvi<strong>da</strong>, eu não me sinto constituinte nem do mundo natural<br />

nem do mundo cultural: em ca<strong>da</strong> percepção, em ca<strong>da</strong> juízo,<br />

faço intervir, seja funções sensoriais, seja montagens culturais<br />

que atualmente não são minhas. Ultrapassado de todos<br />

os lados por meus próprios atos, afogado na generali<strong>da</strong>de, to<strong>da</strong>via<br />

sou aquele por quem eles são vividos, com minha primeira<br />

percepção foi inaugurado um ser insaciável que se apropria<br />

de tudo aquilo que pode encontrar, a quem na<strong>da</strong> pode<br />

ser pura e simplesmente <strong>da</strong>do porque ele recebeu o mundo<br />

em partilha e desde então traz em si mesmo o projeto de todo<br />

ser possível, porque de uma vez por to<strong>da</strong>s este foi cimentado<br />

em seu campo de experiências. A generali<strong>da</strong>de do corpo não<br />

nos fará compreender como o Eu indeclinável pode alienarse<br />

em benefício de outrem, já que ela é exatamente compensa<strong>da</strong><br />

por esta outra generali<strong>da</strong>de de minha subjetivi<strong>da</strong>de inalienável.<br />

Como eu encontraria alhures, em meu campo perceptivo,<br />

uma tal presença de si a si? Diremos que para mim<br />

a existência de outrem é um simples fato? Mas em todo caso<br />

trata-se de um fato para mim, é preciso que ele esteja entre<br />

minhas possibili<strong>da</strong>des próprias, e que de alguma maneira ele<br />

seja compreendido ou vivido por mim para que possa valer<br />

como fato.<br />

Na falta de poder limitar o solipsismo do exterior, tentaremos<br />

ultrapassá-lo do interior? Sem dúvi<strong>da</strong> só posso reconhecer<br />

um Ego, mas, enquanto sujeito universal, deixo de<br />

ser um eu finito, torno-me um espectador imparcial diante<br />

do qual outrem e eu mesmo, enquanto seres empíricos, estamos<br />

em pé de igual<strong>da</strong>de, sem nenhum privilégio a meu favor.<br />

Da consciência que descubro por reflexão e diante <strong>da</strong><br />

qual tudo é objeto, não se pode dizer que ela seja eu: meu<br />

eu está exposto diante dela como to<strong>da</strong> coisa, ela o constitui,<br />

ela não está encerra<strong>da</strong> nele e portanto pode, sem dificul<strong>da</strong>de,<br />

constituir outros eus. Em Deus posso ter consciência de

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