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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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620 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

cepções <strong>da</strong>s coisas são indivisíveis e sem partes.'' (Quatre-vingt-un chapitres sur<br />

1'espnt et les passions, p. 18.) Mas então uma inspeção do espírito que as percorresse<br />

e que determinasse um em função do outro não seria a ver<strong>da</strong>deira<br />

subjetivi<strong>da</strong>de e ain<strong>da</strong> tomaria muito de empréstimo às coisas considera<strong>da</strong>s<br />

como em si. A percepção não conclui a grandeza <strong>da</strong> árvore <strong>da</strong>quela do homem,<br />

ou a grandeza do homem <strong>da</strong>quela <strong>da</strong> árvore, nem uma e outra do<br />

sentido desses dois objetos, mas ela faz tudo ao mesmo tempo: a grandeza<br />

<strong>da</strong> árvore, a do homem, e sua significação de árvore e de homem, de forma<br />

que ca<strong>da</strong> elemento se harmoniza com todos os outros e compõe com eles uma<br />

paisagem em que todos coexistem. Entra-se assim na análise <strong>da</strong>quilo que torna<br />

possível a grandeza e, mais geralmente, as relações ou as proprie<strong>da</strong>des<br />

de ordem predicativa, e nessa subjetivi<strong>da</strong>de "anterior a to<strong>da</strong> geometria" que,<br />

to<strong>da</strong>via, Alain declarava incognoscível (ibid., p. 29). É que a análise reflexiva<br />

se torna mais estritamente consciente de si mesma enquanto análise. Ela<br />

se apercebe de que tinha abandonado seu objeto, a percepção. Ela reconhece,<br />

atrás do juízo que tinha posto em evidência, uma função mais profun<strong>da</strong><br />

do que ele e que o torna possível; ela reencontra, antes <strong>da</strong>s coisas, os fenômenos.<br />

É essa função que os psicólogos têm em vista quando falam de uma<br />

Gestaltung <strong>da</strong> paisagem. Ê a descrição dos fenômenos que eles relembram aos<br />

filósofos, separando-os estritamente do mundo objetivo constituído, em termos<br />

que são quase aqueles de Alain.<br />

41. Ver A. Gurwitsch, Resenha do Nachwort zu meiner Ideen, de Husserl,<br />

pp. 401 ss.<br />

42. Cf., por exemplo, P. Guillaume, Traiu de Psychologie, cap. IX, La<br />

perception de l'espace, p. 151.<br />

43. Cf. La structure du comportement, p. 178.<br />

44. '"' Flieszende", Husserl, Erfahrung und Urteil, p. 428. Foi em seu último<br />

período que o próprio Husserl tomou plenamente consciência do que significava<br />

o retorno ao fenômeno e tacitamente rompeu com a filosofia <strong>da</strong>s essências.<br />

Com isso, ele apenas explicitava e tematizava procedimentos de análise<br />

já aplicados por ele havia muito tempo, como o mostra justamente a noção<br />

de motivação que nele já encontramos antes <strong>da</strong>s Ideen.<br />

45. Ver adiante III Parte. A psicologia <strong>da</strong> forma praticou um gênero<br />

de reflexão do qual a fenomenologia de Husserl fornece a teoria. Estamos<br />

errados em encontrar to<strong>da</strong> uma filosofia implícita na crítica <strong>da</strong> "hipótese de<br />

constância"? Embora não se trate aqui de fazer história, indiquemos que<br />

o parentesco entre a Gestalttheorie e a <strong>Fenomenologia</strong> também é atestado por<br />

indícios exteriores. Não é por acaso que Kóhler apresenta como objetivo <strong>da</strong><br />

psicologia uma "descrição fenomenológica" (Ueber unbemerkte Empfindungen<br />

und Urteilstãuschungen, p. 70); que Koffka, antigo aluno de Husserl, relaciona<br />

a essa influência as idéias diretrizes de sua psicologia, e procura mostrar que<br />

a crítica ao psicologismo não se dirige contra a Gestalttheorie {Principies of Gestalt<br />

Psychology, pp. 614-683), a Gestalt não sendo um acontecimento psíquico<br />

do tipo <strong>da</strong> impressão, mas um conjunto que envolve uma lei de constituição<br />

interna; que Husserl, enfim, em seu último período, sempre mais distancia-

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