12.04.2013 Views

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

O CORPO 115<br />

não é, exatamente como os corpos exteriores, um objeto que<br />

age sobre receptores e finalmente dá lugar à consciência do<br />

corpo? Não existe uma "interoceptivi<strong>da</strong>de" assim como existe<br />

uma "exteroceptivi<strong>da</strong>de"? Não posso encontrar no corpo filamentos<br />

que os órgãos internos enviam ao cérebro e que são<br />

instituídos pela natureza para <strong>da</strong>r à alma a ocasião de sentir<br />

seu corpo? A consciência do corpo e a alma são assim repelidos,<br />

o corpo volta a ser esta máquina bem limpa que a noção<br />

ambígua de comportamento falhou em fazer-nos esquecer.<br />

Por exemplo, se em um amputado algum estímulo se substitui<br />

ao <strong>da</strong> perna no trajeto que vai do coto ao cérebro, o paciente<br />

sentirá uma perna fantasma porque a alma está imediatamente<br />

uni<strong>da</strong> ao cérebro e apenas a ele.<br />

O que diz sobre isso a fisiologia moderna? A anestesia<br />

pela cocaína não suprime o membro fantasma, há membros<br />

fantasmas sem nenhuma amputação e após lesões cerebrais 9 .<br />

Enfim, o membro fantasma freqüentemente conserva a mesma<br />

posição em que estava o braço real no momento do ferimento:<br />

um ferido de guerra ain<strong>da</strong> sente em seu braço fantasma<br />

os estilhaços de obus que laceraram seu braço real 10 . É<br />

preciso então substituir a "teoria periférica" por uma "teoria<br />

central"? Mas uma teoria central na<strong>da</strong> nos faria ganhar<br />

se às condições periféricas do membro fantasma ela só acrescentasse<br />

traços cerebrais. Pois um conjunto de traços cerebrais<br />

não poderia representar as relações de consciência que<br />

intervém no fenômeno. Com efeito, ele depende de determinantes<br />

"psíquicos". Uma emoção, uma circunstância que relembre<br />

as do ferimento fazem aparecer um membro fantasma<br />

em pacientes que não o tinham 11 . Ocorre que o membro<br />

fantasma, enorme depois <strong>da</strong> operação, se encolha em segui<strong>da</strong><br />

para enfim se absorver no coto "com o consentimento<br />

do doente em aceitar sua mutilação" 12 . O fenômeno do<br />

membro fantasma se ilumina aqui pelo fenômeno <strong>da</strong> anosognose,<br />

que visivelmente exige uma explicação psicológica. Os

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!