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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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202 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

uma relação tão direta que o corpo do organista e o instrumento<br />

são apenas,o lugar de passagem dessa relação. Doravante<br />

a música existe por si e é por ela que todo o resto<br />

existe 111 . Não há aqui lugar para uma "recor<strong>da</strong>ção" <strong>da</strong> localização<br />

<strong>da</strong>s teclas e não é no espaço objetivo que o organista<br />

toca. Na reali<strong>da</strong>de, seus gestos, durante o ensaio, são gestos<br />

de consagração: eles estendem vetores afetivos, descobrem<br />

fontes emocionais, criam um espaço expressivo, assim como<br />

os gestos do augúrio delimitam o templum.<br />

Aqui, todo o problema do hábito é o de saber como a<br />

significação musical do gesto pode aniquilar-se em uma certa<br />

locali<strong>da</strong>de, a ponto de que, estando inteiramente ao dispor<br />

<strong>da</strong> música, o organista alcance justamente as teclas e os<br />

pe<strong>da</strong>is que vão realizá-la. Ora, o corpo é eminentemente um<br />

espaço expressivo. Eu quero pegar um objeto e, em um ponto<br />

do espaço no qual eu não pensava, essa potência de preetysão<br />

que é minha mão já se levanta em direção ao objeto. Movo<br />

minhas pernas não enquanto elas estão no espaço a oitenta<br />

centímetros de minha cabeça, mas enquanto sua potência<br />

ambulatória prolonga para baixo a minha intenção motora.<br />

As principais regiões de meu corpo são consagra<strong>da</strong>s a ações,<br />

elas participam de seu valor, e trata-se do mesmo problema<br />

saber por que o senso comum põe o lugar do pensamento na<br />

cabeça e como o organista distribui as significações musicais<br />

no espaço do órgão. Mas nosso corpo não é apenas um espaço<br />

expressivo entre todos os outros. Este é apenas o corpo<br />

constituído. Ele é a origem de todos os outros, o próprio movimento<br />

de expressão, aquilo que projeta as significações no<br />

exterior <strong>da</strong>ndo-lhes um lugar, aquilo que faz com que elas<br />

comecem a existir como coisas, sob nossas mãos, sob nossos<br />

olhos. Se nosso corpo não nos impõe, como o faz ao animal,<br />

instintos definidos desde o nascimento, pelo menos é ele que<br />

dá à nossa vi<strong>da</strong> a forma <strong>da</strong> generali<strong>da</strong>de e que prolonga nossos<br />

atos pessoais em disposições estáveis. Nesse sentido, nos-

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