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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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o CORPO 263<br />

riores a compreen<strong>da</strong>m. Aqui e ali, um sistema de poderes definidos<br />

repentinamente se descentra, rompe-se e reorganizase<br />

sob uma lei desconheci<strong>da</strong> pelo sujeito ou pelo testemunho<br />

exterior, e que se revela a eles nesse momento mesmo. Por<br />

exemplo, o franzir <strong>da</strong> sobrancelha, destinado, segundo Darwin,<br />

a proteger o olho do sol, ou a convergência dos olhos,<br />

destina<strong>da</strong> a permitir a visão clara, tornam-se componentes<br />

do ato humano de meditação e o significam ao espectador.<br />

A linguagem, por sua vez, não coloca outro problema: uma<br />

contração <strong>da</strong> garganta, uma emissão de ar sibilante entre a<br />

língua e os dentes, uma certa maneira de desempenhar de<br />

nosso corpo deixam-se repentinamente investir de um sentido<br />

figurado e o significam fora de nós. Isso não é nem mais nem<br />

menos miraculoso do que a emergência do amor no desejo<br />

ou a do gesto nos movimentos descoordenados do começo <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong>. Para que o milagre se produza, é preciso que a gesticulação<br />

fonética utilize um alfabeto de significações já adquiri<strong>da</strong>s,<br />

que o gesto verbal se execute em um certo panorama<br />

comum aos interlocutores, assim como a compreensão dos outros<br />

gestos supõe um mundo percebido comum a todos, em<br />

que ele se desenrola e desdobra seu sentido. Mas essa condição<br />

não basta: a fala, se é autêntica, faz nascer um sentido<br />

novo, assim como o gesto dá pela primeira vez um sentido<br />

humano ao objeto, se ele é um gesto de iniciação. Mas é preciso<br />

que as significações agora adquiri<strong>da</strong>s tenham sido significações<br />

novas. É preciso reconhecer então essa potência aberta<br />

e indefini<strong>da</strong> de significar — quer dizer, ao mesmo tempo de<br />

apreender e de comunicar um sentido — como um fato último<br />

pelo qual o homem se transcende em direção a um comportamento<br />

novo, ou em direção ao outro, ou em direção ao<br />

seu próprio pensamento, através de seu corpo e de sua fala.<br />

Quando os autores procuram concluir a análise <strong>da</strong> afasia<br />

por uma concepção geral <strong>da</strong> linguagem 34 , vemos que<br />

abandonam mais claramente ain<strong>da</strong> a linguagem intelectua-

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