12.04.2013 Views

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

O CORPO 137<br />

cia, presente sem cessar, ele também, antes de todo pensamento<br />

determinante.<br />

Os outros "caracteres" pelos quais se definia o corpo<br />

próprio não eram menos interessantes, e pelas mesmas razões.<br />

Meu corpo, dizia-se, é reconhecível pelo fato de me <strong>da</strong>r<br />

"sensações duplas": quando toco minha mão direita com a<br />

mão esquer<strong>da</strong>, o objeto mão direita tem esta singular proprie<strong>da</strong>de<br />

de sentir, ele também. Vimos há pouco que as duas<br />

mãos nunca são ao mesmo tempo toca<strong>da</strong>s e tocantes uma em<br />

relação à outra. Quando pressiono minhas mãos uma contra<br />

a outra, não se trata então de duas sensações que eu sentiria<br />

em conjunto, como se percebem dois objetos justapostos, mas<br />

de uma organização ambígua em que as duas mãos podem<br />

alternar-se na função de "tocante" e de "toca<strong>da</strong>". Ao falar<br />

de "sensações duplas" queria-se dizer que, na passagem de<br />

uma função à outra, posso reconhecer a mão toca<strong>da</strong> como<br />

a mesma que dentro em breve será tocante — neste pacote<br />

de ossos e de músculos que minha mão direita é para minha<br />

mão esquer<strong>da</strong>, adivinho em um instante o invólucro ou a encarnação<br />

desta outra mão direita, ágil e viva, que lanço em<br />

direção aos objetos para explorá-los. O corpo surpreende-se<br />

a si mesmo do exterior prestes a exercer uma função de conhecimento,<br />

ele tenta tocar-se tocando, ele esboça "um tipo<br />

de reflexão" 2 , e bastaria isso para distingui-lo dos objetos,<br />

dos quais posso dizer que "tocam" meu corpo, mas apenas<br />

quando ele está inerte, e portanto sem que eles o surpreen<strong>da</strong>m<br />

em sua função exploradora.<br />

Dizia-se ain<strong>da</strong> que o corpo é um objeto afetivo, enquanto<br />

as coisas exteriores me são apenas representa<strong>da</strong>s. Isso era<br />

colocar uma terceira vez o problema do estatuto do corpo próprio.<br />

Pois, se digo que meu pé me incomo<strong>da</strong>, não quero dizer<br />

simplesmente que ele é uma causa de dor equivalente ao<br />

prego que o fere, e apenas mais próxima; não quero dizer

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!