12.04.2013 Views

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

O MUNDO PERCEBIDO 415<br />

Ele não se oferece à nossa percepção como uma meta, ele é<br />

seu auxiliar ou seu mediador. O reflexo não é visto ele mesmo,<br />

ele faz ver o resto. Em fotografia, os reflexos e as iluminações<br />

freqüentemente são mal expressos, porque são transformados<br />

em coisas, e, se em um filme, por exemplo, um personagem<br />

entra em um porão com uma lâmpa<strong>da</strong> na mão, não<br />

vemos o feixe de luz como um ser imaterial que explora a<br />

obscuri<strong>da</strong>de e faz aparecer objetos; ele se solidifica, não é mais<br />

capaz de mostrar-nos o objeto em sua extremi<strong>da</strong>de, a passagem<br />

<strong>da</strong> luz por uma parede só produz poças de clari<strong>da</strong>de ofuscante<br />

que não se localizam na parede, mas na superfície <strong>da</strong><br />

tela. Portanto, a iluminação e o reflexo só desempenham seu<br />

papel se se apagam enquanto intermediários discretos e se conduzem<br />

nosso olhar em lugar de retê-lo 24 . Mas o que se deve<br />

entender por isso? Quando, em um apartamento que não conheço,<br />

me conduzem para o dono <strong>da</strong> casa, existe alguém que<br />

sabe por mim, para quem o desenrolar do espetáculo visual<br />

oferece um sentido, caminha em direção a uma meta, e eu<br />

me deixo nas mãos ou me presto a este saber que não tenho.<br />

Quando me mostram em uma paisagem um detalhe que sozinho<br />

eu não soube distinguir, existe ali alguém que já viu,<br />

que já sabe onde é preciso colocar-se e onde é preciso olhar<br />

para ver. A iluminação conduz meu olhar e me faz ver o objeto,<br />

então é porque um certo sentido ela conhece e vê o objeto.<br />

Se imagino um teatro sem espectadores, em que a cortina se<br />

levanta sobre um cenário iluminado, parece-me que o espetáculo<br />

é em si mesmo visível ou está prestes a ser visto, e que<br />

a luz que explora os planos, desenha as sombras e penetra<br />

no espetáculo de um lado a outro realiza, antes de nós, uma<br />

espécie de visão. Reciprocamente, nossa visão apenas retoma<br />

por sua própria conta e prossegue o investimento do espetáculo<br />

pelos caminhos que a iluminação lhe traça, assim<br />

como, ouvindo uma frase, temos a surpresa de encontrar o<br />

vestígio de um pensamento alheio. Percebemos segundo a luz,

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!