12.04.2013 Views

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

476 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

cionam as coisas, eles têm uma existência quase material, a<br />

ponto de uma criança se perguntar como os olhares não se<br />

quebram ao se cruzarem 4 . Por volta dos doze anos, diz Piaget,<br />

a criança efetua o cogito e encontra as ver<strong>da</strong>des do racionalismo.<br />

Ela se descobriria ao mesmo tempo como consciência<br />

sensível e como consciência intelectual, como ponto de vista<br />

sobre o mundo e como chama<strong>da</strong> a ultrapassar este ponto<br />

de vista, a construir uma objetivi<strong>da</strong>de no nível do juízo. Piaget<br />

conduz a criança até a i<strong>da</strong>de <strong>da</strong> razão como se os pensamentos<br />

do adulto se bastassem e suprimissem to<strong>da</strong>s as contradições.<br />

Mas, na reali<strong>da</strong>de, é preciso que de alguma maneira<br />

as crianças tenham razão contra os adultos ou contra<br />

Piaget, e que os pensamentos bárbaros <strong>da</strong> primeira i<strong>da</strong>de permaneçam<br />

sob os pensamentos <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de adulta como um saber<br />

adquirido indispensável, se é que deve haver para o adulto<br />

um mundo único e intersubjetivo. A consciência que tenho<br />

de construir uma ver<strong>da</strong>de objetiva me <strong>da</strong>ria apenas uma ver<strong>da</strong>de<br />

objetiva para mim, meu maior esforço de imparciali<strong>da</strong>de<br />

não me faria dominar a subjetivi<strong>da</strong>de, como Descartes o<br />

exprime tão bem pela hipótese do gênio maligno, se eu não<br />

tivesse, abaixo de meus juízos, a certeza primordial de tocar<br />

o próprio ser, se, antes de to<strong>da</strong> toma<strong>da</strong> de posição voluntária,<br />

eu já não me encontrasse situado em um mundo intersubjetivo,<br />

se a ciência não se apoiasse nesta óa^ô originária. Com<br />

o cogito começa a luta <strong>da</strong>s consciências <strong>da</strong>s quais ca<strong>da</strong> uma,<br />

como diz Hegel, persegue a morte <strong>da</strong> outra. Para que a luta<br />

possa começar, para que ca<strong>da</strong> consciência possa presumir as<br />

presenças alheias que ela nega, é preciso que elas tenham um<br />

terreno comum e que se recordem de sua coexistência pacífica<br />

no mundo <strong>da</strong> criança.<br />

Mas seria exatamente outrem que nós obtemos assim?<br />

Em suma, nós nivelamos o Eu e o Tu em uma experiência<br />

para vários, introduzimos o impessoal no centro <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong>de,<br />

apagamos a individuali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s perspectivas, mas,

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!