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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O MUNDO PERCEBIDO 373<br />

cepção. As linhas do campo visual são um momento necessário<br />

<strong>da</strong> organização do mundo e não um contorno objetivo.<br />

Mas enfim é ver<strong>da</strong>de to<strong>da</strong>via que um objeto percorre nosso<br />

campo visual, que ele ali se desloca e que o movimento não<br />

tem nenhum sentido fora desta relação. Segundo <strong>da</strong>mos a tal<br />

parte do campo valor de figura ou valor de fundo, ela nos<br />

parece em movimento ou em repouso. Se estamos em um barco<br />

que ladeia a costa é ver<strong>da</strong>de, como dizia Leibniz, que podemos<br />

ver a costa desfilar diante de nós ou então considerála<br />

como ponto fixo e sentir o barco em movimento. Então<br />

<strong>da</strong>mos razão ao lógico? De forma alguma, pois dizer que o<br />

movimento é um fenômeno de estrutura não é dizer que ele<br />

é "relativo". A relação muito particular que é constitutiva<br />

do movimento não está entre objetos, e essa relação o psicólogo<br />

não ignora e a descreve muito melhor que o lógico. A costa<br />

desfila sob nossos olhos se conservamos os olhos fixos na mura<strong>da</strong>,<br />

e é o barco que se move se olhamos a costa. Na obscuri<strong>da</strong>de,<br />

entre dois pontos luminosos, um imóvel e outro em<br />

movimento, aquele que fixamos com os olhos parece em<br />

movimento 49 . A nuvem voa acima do campanário e o riacho<br />

flui sob a ponte se é a nuvem e o riacho que nós olhamos.<br />

O campanário cai através do céu e a ponte desliza sobre um<br />

riacho imóvel se é o campanário ou a ponte que olhamos. O<br />

que dá a uma parte do campo valor de móbil, a uma outra<br />

parte valor de fundo, é a maneira pela qual estabelecemos<br />

nossas relações com elas pelo ato do olhar. A pedra voa no<br />

ar, o que significam estas palavras senão que nosso olhar, instalado<br />

e ancorado no jardim, é solicitado pela pedra e, por<br />

assim dizer, puxa suas âncoras? A relação do móbil ao seu<br />

fundo passa por nosso corpo. Como conceber essa mediação<br />

do corpo? De onde provém que as relações dos objetos com<br />

ele possam determiná-los como móveis ou como em repouso?<br />

Nosso corpo não é um objeto e não precisa ser ele mesmo<br />

determinado sob o aspecto do repouso e do movimento? Fre-

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