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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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290 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

<strong>da</strong>de do universo. Mas o espetáculo percebido não é ser puro.<br />

Tomado exatamente tal como o vejo, ele é um momento<br />

de minha história individual e, como a sensação é uma reconstituição,<br />

ela supõe em mim os sedimentos de uma constituição<br />

prévia, eu sou, enquanto sujeito que sente, inteiramente<br />

pleno de poderes naturais dos quais sou o primeiro a<br />

me espantar. Não sou portanto, segundo a expressão de Hegel,<br />

um "buraco no ser", mas um vazio, uma prega que se<br />

fez e que pode desfazer-se 16 .<br />

Insistamos nesse ponto. Como podemos escapar <strong>da</strong> alternativa<br />

entre o para si e o em si, como a consciência perceptiva<br />

pode ser obstruí<strong>da</strong> por seu objeto, como podemos distinguir<br />

a consciência sensível <strong>da</strong> consciência intelectual? É<br />

que: 1? To<strong>da</strong> percepção acontece em uma atmosfera de generali<strong>da</strong>de<br />

e se dá a nós como anônima. Não posso dizer que<br />

eu vejo o azul do céu no sentido em que digo que compreendo<br />

um livro ou, ain<strong>da</strong>, que decido consagrar minha vi<strong>da</strong> às<br />

matemáticas. Minha percepção, mesmo vista do interior, exprime<br />

uma situação <strong>da</strong><strong>da</strong>: vejo o azul porque sou sensível às<br />

cores — ao contrário, os atos pessoais criam uma situação:<br />

sou matemático porque decidi sê-lo. De forma que, se eu quisesse<br />

traduzir exatamente a experiência perceptiva, deveria<br />

dizer que se percebe em mim e não que eu percebo. To<strong>da</strong><br />

sensação comporta um germe de sonho ou de despersonalização,<br />

como nós o experimentamos por essa espécie de estupor<br />

em quê èla nos coloca quando vivemos ver<strong>da</strong>deiramente<br />

em seu plano. Sem dúvi<strong>da</strong>, o conhecimento me tensina que<br />

a sensação não aconteceria sem uma a<strong>da</strong>ptação de meu corpo,<br />

por exemplo que não haveria contato determinado sem<br />

um movimento de minha mão. Mas essa ativi<strong>da</strong>de se desenrola<br />

na periferia de meu ser, não tenho mais consciência de<br />

ser o ver<strong>da</strong>deiro sujeito de minha sensação do que de meu<br />

nascimento ou de minha morte. Nem meu nascimento nem<br />

minha morte podem aparecer-me como experiências minhas,

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