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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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198 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

encontrar por análise a formula do movimento e recompôlo,<br />

guiando-se por esse traçado ideal, com o auxílio dos movimentos<br />

já adquiridos, aqueles <strong>da</strong> caminha<strong>da</strong> e <strong>da</strong> corri<strong>da</strong>?<br />

Mas, para que a fórmula <strong>da</strong> nova <strong>da</strong>nça integre a si certos<br />

elementos <strong>da</strong> motrici<strong>da</strong>de geral, primeiramente é preciso que<br />

ela tenha recebido como que uma consagração motora. É o<br />

corpo, como freqüentemente o disseram, que "apanha" (kapiert)<br />

e que "compreende" o movimento. A aquisição do hábito<br />

é sim a apreensão de uma significação, mas é a apreensão<br />

motora de uma significação motora. O que se quer dizer<br />

justamente por isso? Uma mulher mantém sem cálculo um<br />

intervalo de segurança entre a pluma de seu chapéu e os objetos<br />

que poderiam estragá-la, ela sente onde está a pluma<br />

assim como nós sentimos onde está nossa mão 107 . Se tenho<br />

o hábito de dirigir um carro, eu o coloco em uma rua e vejo<br />

que "posso passar" sem comparar a largura <strong>da</strong> rua com a<br />

dos pára-choques, assim como transponho uma porta sem<br />

comparar a largura <strong>da</strong> porta com a de meu corpo 108 . O chapéu<br />

e o automóvel deixaram de ser objetos cuja grandeza e<br />

cujo volume determinar-se-iam por comparação com os outros<br />

objetos. Eles se tornaram potências volumosas, a exigência<br />

de um certo espaço livre. Correlativamente, a porta do<br />

metrô, o caminho tornaram-se potências constrangedoras e<br />

aparecem de um só golpe como praticáveis ou impraticáveis<br />

para meu corpo com seus anexos. A bengala do cego deixou<br />

de ser para ele um objeto, ela não mais é percebi<strong>da</strong> por si<br />

mesma, sua extremi<strong>da</strong>de transformou-se em zona sensível,<br />

ela aumenta a amplitude e o raio de ação do tocar, tornou-se<br />

o análogo de um olhar. Na exploração dos objetos, o comprimento<br />

<strong>da</strong> bengala não intervém expressamente e como meiotermo:<br />

o cego o conhece pela posição dos objetos, antes que<br />

a posição dos objetos por ele. A posição dos objetos está imediatamente<br />

<strong>da</strong><strong>da</strong> pela amplitude do gesto que a alcança e no<br />

qual está compreendido, além <strong>da</strong> potência de extensão do bra-

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