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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O SER-PARA-SI E O SER-NO-MUNDO 583<br />

— nunca o sou inteiramente para mim mesmo, como o explicávamos<br />

há pouco. E sem dúvi<strong>da</strong> eu o sou para outrem,<br />

mas permaneço livre de pôr outrem como uma consciência<br />

cujas visões me alcançam até em meu ser, ou ao contrário<br />

como um simples objeto. É ver<strong>da</strong>de ain<strong>da</strong> que esta própria<br />

alternativa é um constrangimento: se sou feio, tenho a escolha<br />

de ser reprovado ou de reprovar os outros, deixam-me<br />

livre entre o masoquismo e o sadismo, e não livre para ignorar<br />

os outros. Mas essa alternativa, que é um <strong>da</strong>do <strong>da</strong> condição<br />

humana, não o é para mim enquanto pura consciência:<br />

ain<strong>da</strong> sou eu quem faz outrem ser para mim e quem nos faz<br />

um e outro sermos como homens. Aliás, mesmo se o ser humano<br />

me fosse imposto, apenas a maneira de ser sendo deixa<strong>da</strong><br />

à minha escolha, a se considerar esta própria escolha<br />

e sem distinção do pequeno número de possíveis, ela ain<strong>da</strong><br />

seria uma escolha livre. Se se diz que meu temperamento me<br />

inclina mais para o sadismo ou antes para o masoquismo,<br />

trata-se ain<strong>da</strong> de uma maneira de falar, pois meu temperamento<br />

só existe para o conhecimento secundário de mim mesmo<br />

que tenho pelos olhos de outrem, e contanto que eu o reconheça,<br />

o valorize e, neste sentido, o escolha. O que engana<br />

sobre isso é o fato de que freqüentemente procuramos a<br />

liber<strong>da</strong>de na deliberação voluntária que examina alterna<strong>da</strong>mente<br />

os motivos e parece render-se ao mais forte ou ao mais<br />

convincente. Na reali<strong>da</strong>de, a deliberação decorre <strong>da</strong> decisão,<br />

é minha decisão secreta que faz os motivos aparecerem e nem<br />

mesmo se conceberia o que pode ser a força de um motivo<br />

sem uma decisão que ele confirma ou contraria. Quando renunciei<br />

a um projeto, repentinamente os motivos que eu acreditava<br />

ter para mantê-lo tornam a cair sem força. Para restituir-lhes<br />

uma força, é preciso que eu faça o esforço de reabrir<br />

o tempo e de me recolocar no momento em que a decisão ain<strong>da</strong><br />

não estava toma<strong>da</strong>. Mesmo enquanto delibero, já é por<br />

um esforço que consigo suspender o tempo, manter aberta

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