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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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334 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

compreender que para nós existam direções — mas a experiência,<br />

assim como a reflexão, mostra que nenhum conteúdo<br />

é por si orientado. O intelectualismo parte dessa relativi<strong>da</strong>de<br />

do alto e do baixo, mas não pode sair dela para <strong>da</strong>r conta<br />

de uma percepção efetiva do espaço. Portanto, não podemos<br />

compreender a experiência do espaço nem pela consideração<br />

dos conteúdos, nem pela consideração de uma ativi<strong>da</strong>de pura<br />

de ligação, e estamos em presença desta terceira espaciali<strong>da</strong>de<br />

que há pouco prevíamos, que não é nem a <strong>da</strong>s coisas<br />

no espaço, nem a do espaço espacializante e que, desse modo,<br />

escapa à análise kantiana e é pressuposta por ela. Precisamos<br />

de um absoluto no relativo, de um espaço que não escorregue<br />

nas aparências, que se ancore nelas e se faça solidário<br />

a elas, mas que, to<strong>da</strong>via, não seja <strong>da</strong>do com elas à maneira<br />

realista e possa, como o mostra a experiência de Stratton,<br />

sobreviver à subversão <strong>da</strong>s aparências. Precisamos investigar<br />

a experiência originária do espaço para aquém <strong>da</strong> distinção<br />

entre a forma e o conteúdo.<br />

Se se dispõe para que um sujeito só veja o quarto onde<br />

se encontra por intermédio de um espelho que o reflita inclinando-o<br />

a 45° em relação à vertical, primeiramente o sujeito<br />

vê o quarto "oblíquo". Um homem que ali se desloca parece<br />

caminhar inclinado para o lado. Um pe<strong>da</strong>ço de papelão<br />

que cai ao longo <strong>da</strong> guarnição <strong>da</strong> porta parece cair segundo<br />

uma direção oblíqua. O conjunto é "estranho". Após alguns<br />

minutos, intervém uma mu<strong>da</strong>nça brusca: as paredes, o homem<br />

que se desloca no cômodo, a direção de que<strong>da</strong> do papelão<br />

tornam-se verticais 12 . Essa experiência, análoga à de<br />

Stratton, tem a vantagem de pôr em evidência uma redistribuição<br />

instantânea do alto e do baixo, sem nenhuma exploração<br />

motora. Já sabíamos que não há nenhum sentido em<br />

dizer que a imagem oblíqua (ou inverti<strong>da</strong>) traz consigo uma<br />

nova localização do alto e do baixo, <strong>da</strong> qual teríamos conhecimento<br />

pela exploração motora do novo espetáculo. Mas ve-

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