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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O SER-PARA-SI E O SER-NO-MUNDO 503<br />

ser motiva<strong>da</strong>, e ela só pode sê-lo pela própria estrutura dessas<br />

sensações, de forma que se pode dizer indiferentemente<br />

que não existe interpretação transcendente, não existe juízo<br />

que não brote <strong>da</strong> própria configuração dos fenômenos — e<br />

que não existe esfera <strong>da</strong> imanência, nenhum domínio em que<br />

minha consciência esteja em casa e assegura<strong>da</strong> contra todo<br />

risco de erro. Os atos do Eu são de uma tal natureza que eles<br />

se ultrapassam a si mesmos e não há intimi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> consciência.<br />

A consciência é de um lado ao outro transcendência, não<br />

transcendência passiva — dissemos que uma tal transcendência<br />

seria a interrupção <strong>da</strong> consciência —, mas transcendência<br />

ativa. A consciência que tenho de ver ou de sentir não<br />

é a notação passiva de um acontecimento psíquico fechado<br />

em si mesmo, e que me deixaria incerto no que concerne à<br />

reali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> coisa vista ou senti<strong>da</strong>; ela também não é o desdobramento<br />

de uma potência constituinte que conteria eminentemente<br />

e eternamente em si mesma to<strong>da</strong> visão e sensação<br />

possíveis, e que encontraria o objeto sem precisar<br />

abandonar-se, ela é a própria efetuação <strong>da</strong> visão. Assegurome<br />

de ver vendo isto e aquilo, ou pelo menos despertando<br />

em torno de mim uma circunvizinhança visual, um mundo<br />

visível que finalmente só é atestado pela visão de uma coisa<br />

particular. A visão é uma ação, quer dizer, não uma operação<br />

eterna — a expressão é contraditória —, mas uma operação<br />

que funciona mais do que ela prometia, que sempre<br />

ultrapassa suas premissas e só é prepara<strong>da</strong> interiormente por<br />

minha abertura primordial a um campo de transcendências,<br />

quer dizer, outra vez por um êxtase. A visão atinge-se a si<br />

mesma e se encontra na coisa vista. É-lhe essencial apreenderse,<br />

e se não o fizesse ela não seria visão de na<strong>da</strong>, mas é-lhe<br />

essencial apreender-se em uma espécie de ambigüi<strong>da</strong>de e de<br />

obscuri<strong>da</strong>de, já que ela não se possui e, ao contrário, se dissipa<br />

na coisa vista. O que descubro e reconheço pelo Cogito<br />

não é a imanência psicológica, a inerência de todos os fenô-

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