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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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106 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

algum, mas a casa vista de todos os lugares. O objeto acabado<br />

é translúcido, ele está penetrado de todos os lados por uma infini<strong>da</strong>de<br />

atual de olhares que se entrecruzam em sua profundeza<br />

e não deixam na<strong>da</strong> escondido.<br />

O que acabamos de dizer <strong>da</strong> perspectiva espacial, poderíamos<br />

dizê-lo também <strong>da</strong> perspectiva temporal. Se considero<br />

a casa atentamente e sem nenhum pensamento, ela tem um<br />

ar de eterni<strong>da</strong>de e dela emana uma espécie de entorpecimento.<br />

Sem dúvi<strong>da</strong>, eu a vejo de um certo ponto de minha duração,<br />

mas ela é a mesma casa que eu via ontem, um dia mais<br />

moço; é a mesma casa que um velho e uma criança contemplam.<br />

Sem dúvi<strong>da</strong>, ela própria tem sua i<strong>da</strong>de e suas mu<strong>da</strong>nças;<br />

mas, mesmo que desabe amanhã, permanecerá ver<strong>da</strong>deiro<br />

para sempre que hoje ela existiu, ca<strong>da</strong> momento do tempo<br />

se dá por testemunhos todos os outros, ele mostra, sobrevindo,<br />

"como aquilo devia passar" e "como aquilo terá acabado",<br />

ca<strong>da</strong> presente fun<strong>da</strong> definitivamente um ponto do tempo<br />

que solicita o reconhecimento de todos os outros, o objeto é visto<br />

portanto a partir de todos os tempos, assim como é visto de to<strong>da</strong>s<br />

as partes e pelo mesmo meio, que é a estrutura de horizonte.<br />

O presente ain<strong>da</strong> conserva em suas mãos o passado imediato,<br />

sem pô-lo como objeto, e, como este retém <strong>da</strong> mesma maneira<br />

o passado imediato que o precedeu, o tempo escoado é<br />

inteiramente retomado e apreendido no presente. O mesmo<br />

acontece com o futuro iminente que terá, ele também, seu horizonte<br />

de iminência. Mas com meu passado imediato tenho<br />

também o horizonte de futuro que o envolvia, tenho portanto<br />

o meu presente efetivo visto como futuro deste passado. Com<br />

o futuro iminente, tenho o horizonte de passado que o envolverá,<br />

tenho portanto meu presente efetivo como passado deste<br />

futuro. Assim, graças ao duplo horizonte de retenção e de protensão,<br />

meu presente pode deixar de ser um presente de fato,<br />

logo arrastado e destruído pelo escoamento <strong>da</strong> duração, e<br />

tornar-se um ponto fixo e identificável em um tempo objetivo.

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