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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O SER-PARA-SI E O SER-NO-MUNDO 497<br />

idéia. A consciência de si é o próprio ser do espírito em exercício.<br />

É preciso que o ato pelo qual tenho consciência de algo<br />

seja ele mesmo apreendido no instante em que se realiza, sem<br />

o que ele se romperia. Desde então, não se concebe que ele<br />

possa ser desencadeado ou provocado por o que quer que seja,<br />

é preciso que ele seja causa sui 4 . Retornar, com Descartes,<br />

<strong>da</strong>s coisas ao pensamento <strong>da</strong>s coisas é reduzir a experiência<br />

a uma soma de acontecimentos psicológicos dos quais o<br />

Eu seria apenas o nome comum ou a causa hipotética, mas<br />

então não se vê como minha existência poderia ser mais certa<br />

que a de qualquer coisa, já que ela não é mais imediata,<br />

salvo em um instante inapreensível; ou reconhecer, aquém<br />

dos acontecimentos, um campo e um sistema de pensamentos<br />

que não esteja sujeito nem ao tempo nem a alguma limitação,<br />

um modo de existência que não deva na<strong>da</strong> ao acontecimento<br />

e que seja a existência como consciência, um ato espiritual<br />

que apreen<strong>da</strong> à distância e contraia em si mesmo tudo<br />

aquilo que visa, um "eu penso" que seja por si mesmo<br />

e sem nenhuma adjunção um "eu sou" 5 . "A doutrina cartesiana<br />

do Cogito devia então conduzir logicamente à afirmação<br />

<strong>da</strong> intemporali<strong>da</strong>de do espírito e à admissão de uma consciência<br />

do eterno: experimur nos aeternos esse." 6 A eterni<strong>da</strong>de,<br />

compreendi<strong>da</strong> como o poder de abarcar e de antecipar os desenvolvimentos<br />

temporais em uma intenção única, seria a definição<br />

mesma <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong>de 7 .<br />

Antes de pôr em questão essa interpretação eternitária<br />

do Cogito, vejamos suas conseqüências, que farão aparecer a<br />

necessi<strong>da</strong>de de uma retificação. Se o Cogito me revela um novo<br />

modo de existência que não deve na<strong>da</strong> ao tempo, se me<br />

descubro como o o constituinte universal de todo ser que me<br />

seja acessível, e como um campo transcendental sem recônditos<br />

e sem exterior, não se deve dizer apenas que meu espírito,<br />

"quando se trata <strong>da</strong> forma de todos os objetos dos sentidos<br />

(...) é o Deus de Spinoza" 8 — pois a distinção entre a

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