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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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12 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

trário, que nossa existência está presa ao mundo de maneira<br />

demasiado estreita para conhecer-se enquanto tal no momento<br />

em que se lança nele, e que ela precisa do campo <strong>da</strong> ideali<strong>da</strong>de<br />

para conhecer e conquistar sua factici<strong>da</strong>de. A Escola de<br />

Viena, como se sabe, admite de uma vez por to<strong>da</strong>s que nós<br />

só podemos ter relação com significações. A "consciência",<br />

por exemplo, não é para a Escola de Viena aquilo mesmo que<br />

nós somos. E uma significação tardia e complica<strong>da</strong> que só<br />

deveríamos utilizar com circunspecção e depois de ter explicitado<br />

as numerosas significações que contribuíram para determiná-la<br />

no decurso <strong>da</strong> evolução semântica <strong>da</strong> palavra. Este<br />

positivismo lógico está nos antipo<strong>da</strong>s do pensamento de<br />

Husserl. Quaisquer que possam ter sido os deslizamentos de<br />

sentido que finalmente nos entregaram a palavra e o conceito<br />

de consciência enquanto aquisição <strong>da</strong> linguagem, nós temos<br />

um meio direto de ter acesso àquilo que ele designa, nós<br />

temos a experiência de nós mesmos, dessa consciência que<br />

somos, e é a partir dessa experiência que se medem to<strong>da</strong>s as<br />

significações <strong>da</strong> linguagem, é justamente ela que faz com que<br />

a linguagem queira dizer algo para nós. "É a experiência (...)<br />

ain<strong>da</strong> mu<strong>da</strong> que se trata de levar à expressão pura de seu próprio<br />

sentido." 7 As essências de Husserl devem trazer consigo<br />

to<strong>da</strong>s as relações vivas <strong>da</strong> experiência, assim como a rede<br />

traz do fundo do mar os peixes e as algas palpitantes. Portanto<br />

não se deve dizer, com J. Wahl 8 , que "Husserl separa<br />

as essências <strong>da</strong> existência". As essências separa<strong>da</strong>s são as<br />

<strong>da</strong> linguagem. É função <strong>da</strong> linguagem fazer as essências existirem<br />

em uma separação que, na ver<strong>da</strong>de, é apenas aparente,<br />

já que através <strong>da</strong> linguagem as essências ain<strong>da</strong> repousam<br />

na vi<strong>da</strong> antepredicativa <strong>da</strong> consciência. No silêncio <strong>da</strong> consciência<br />

originária, vemos aparecer não apenas aquilo que as<br />

palavras querem dizer, mas ain<strong>da</strong> aquilo que as coisas querem<br />

dizer, o núcleo de significação primário em torno do qual<br />

se organizam os atos de denominação e de expressão.

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