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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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578 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

a existência efetiva de meu corpo é indispensável à existência<br />

de minha "consciência". Em última análise, se sei que o para<br />

si coroa um corpo, só pode ser pela experiência de um corpo<br />

singular e de um para si singular, pela prova de minha<br />

presença no mundo. Responder-se-á que eu poderia ter as<br />

unhas, as orelhas ou os pulmões feitos de outra maneira, sem<br />

que minha existência fosse modifica<strong>da</strong>. Mas também minhas<br />

unhas, minhas orelhas, meus pulmões tomados à parte não<br />

têm nenhuma existência. E a ciência que nos habitua a considerar<br />

o corpo como uma reunião de partes, e também a experiência<br />

de sua desagregação na morte. Ora, o corpo decomposto,<br />

precisamente, não é mais um corpo. Se eu recoloco<br />

minhas orelhas, minhas unhas e meus pulmões em meu<br />

corpo vivo, eles não aparecerão mais como detalhes contingentes.<br />

Eles não são indiferentes à idéia que os outros fazem<br />

de mim, eles contribuem para minha fisionomia ou para meu<br />

aspecto, e talvez amanhã a ciência exprimirá sob forma de<br />

correlações objetivas a necessi<strong>da</strong>de que eu tinha de ter orelhas,<br />

unhas e pulmões assim feitos, se por outro lado eu devia<br />

ser hábil ou desastrado, calmo ou nervoso, inteligente ou<br />

tolo, se eu devia ser eu. Em outros termos, como nós o mostramos<br />

alhures, o corpo objetivo não é a ver<strong>da</strong>de do corpo<br />

fenomenal, quer dizer, a ver<strong>da</strong>de do corpo tal como nós o<br />

vivemos, ele só é uma imagem empobreci<strong>da</strong> do corpo fenomenal,<br />

e o problema <strong>da</strong>s relações entre a alma e o corpo não<br />

concerne ao corpo objetivo, que só tem uma existência conceituai,<br />

mas ao corpo fenomenal. O que é ver<strong>da</strong>deiro é apenas<br />

que nossa existência aberta e pessoal repousa sobre uma<br />

primeira base de existência adquiri<strong>da</strong> e imóvel. Mas não poderia<br />

ser de outra maneira se somos temporali<strong>da</strong>de, já que<br />

a dialética do adquirido e do porvir é constitutiva do tempo.<br />

Nós responderíamos <strong>da</strong> mesma maneira às questões que<br />

se podem colocar sobre o mundo antes do homem. Quando<br />

dizíamos acima que não existe mundo sem uma Existência

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