12.04.2013 Views

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

388 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

sujeito, e que por conseguinte nossa proposição é rigorosamente<br />

desprovi<strong>da</strong> de sentido. Ela não tem, responderemos,<br />

sentido temático ou explícito, ela se esvanece diante do pensamento<br />

objetivo. Mas ela tem um sentido não temático ou<br />

implícito, e este não é um sentido menor, pois o próprio pensamento<br />

objetivo se alimenta do irrefletido e se oferece como<br />

uma explicitação <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> de consciência irrefleti<strong>da</strong>, de forma<br />

que a reflexão radical não pode consistir em tematizar paralelamente<br />

o mundo ou o espaço e o sujeito intemporal que<br />

os pensa, mas deve retomar essa própria tematização com os<br />

horizontes de implicações que lhe dão seu sentido. Se refletir<br />

é investigar o originário, aquilo pelo que o resto pode ser e<br />

ser pensado, a reflexão não pode encerrar-se no pensamento<br />

objetivo, ela deve pensar justamente os atos de tematização<br />

do pensamento objetivo e restituir seu contexto. Em outros<br />

termos, o pensamento objetivo recusa os pretensos fenômenos<br />

do sonho, do mito e, em geral, <strong>da</strong> existência, porque os<br />

considera impensáveis e porque eles não significam na<strong>da</strong> que<br />

ele possa tematizar. Ele recusa o fato ou o real em nome do<br />

possível e <strong>da</strong> evidência. Mas ele não vê que a própria evidência<br />

está fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em um fato. A análise reflexiva acredita saber<br />

aquilo que vivem o sonhador e o esquizofrênico melhor<br />

que o próprio sonhador ou o próprio esquizofrênico; mais:<br />

na reflexão, o filósofo acredita saber aquilo que percebe melhor<br />

do que o sabe na percepção. E é apenas sob essa condição<br />

que ele pode rejeitar os espaços antropológicos como aparências<br />

confusas do espaço ver<strong>da</strong>deiro, único e objetivo. Mas,<br />

duvi<strong>da</strong>ndo do testemunho de outrem sobre si mesmo, ou do<br />

testemunho de sua própria percepção sobre ela mesma, ele<br />

não se dá o direito de afirmar como absolutamente ver<strong>da</strong>deiro<br />

aquilo que apreende com evidência, mesmo se, nessa evidência,<br />

ele tem consciência de compreender eminentemente<br />

o sonhador, o louco ou a percepção. E preciso optar: ou aquele<br />

que vive algo ao mesmo tempo sabe aquilo que vive, e então

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!