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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O SER-PARA-SI E O SER-NO-MUNDO 587<br />

tempo antes do tempo, mas ain<strong>da</strong> porque a escolha supõe um<br />

engajamento prévio e porque a idéia de uma escolha primeira<br />

é contraditória. Se a liber<strong>da</strong>de deve ter campo, se ela deve<br />

poder pronunciar-se como liber<strong>da</strong>de, é preciso que algo a separe<br />

de seus fins, é preciso portanto que ela tenha um campo,<br />

quer dizer, que para ela existam possíveis privilegiados ou<br />

reali<strong>da</strong>des que tendem a perseverar no ser. Como observa o<br />

próprio J.-P. Sartre, o sonho exclui a liber<strong>da</strong>de porque, no<br />

imaginário, mal visamos uma significação e já acreditamos<br />

possuir sua realização intuitiva e, enfim, porque ali não há<br />

obstáculos e na<strong>da</strong> afazer^. É certo que a liber<strong>da</strong>de não se confunde<br />

com as decisões abstratas <strong>da</strong> vontade às voltas com motivos<br />

ou paixões, o esquema clássico <strong>da</strong> deliberação só se aplica<br />

a uma liber<strong>da</strong>de de má-fé que secretamente alimenta motivos<br />

antagônicos sem querer assumi-los, e fabrica ela mesma<br />

as pretensas provas de sua impotência. Percebemos, abaixo<br />

desses debates ruidosos e desses esforços vãos para nos "construir",<br />

as decisões tácitas pelas quais articulamos em torno<br />

de nós o campo dos possíveis, e é ver<strong>da</strong>de que na<strong>da</strong> é feito<br />

enquanto conservamos estas fixações, tudo é fácil a partir do<br />

momento em que levantamos estas âncoras. É por isso que<br />

nossa liber<strong>da</strong>de não deve ser procura<strong>da</strong> nas discussões insinceras<br />

em que se afrontam um estilo de vi<strong>da</strong> que não queremos<br />

pôr em questão e circunstâncias que nos sugerem um<br />

outro estilo de vi<strong>da</strong>: a escolha ver<strong>da</strong>deira é a escolha de nosso<br />

caráter inteiro e de nossa maneira de ser no mundo. Mas<br />

ou esta escolha total nunca se pronuncia, ela é o surgimento<br />

silencioso de nosso ser no mundo, e então não se vê em que<br />

sentido ela poderia ser dita nossa, essa liber<strong>da</strong>de desliza sobre<br />

si mesma e é o equivalente de um destino -— ou então<br />

a escolha que fazemos de nós mesmos é ver<strong>da</strong>deiramente uma<br />

escolha, uma conversão de nossa existência, mas então ela<br />

supõe uma aquisição prévia que ela se aplica a modificar e<br />

fun<strong>da</strong> uma nova tradição, de forma que precisaremos per-

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