12.04.2013 Views

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

40 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

sa porque ela confronta os estímulos objetivos, que pertencem<br />

ao mundo objetivo e mesmo ao mundo segundo que a<br />

consciência científica constrói, com a consciência perceptiva<br />

que a psicologia deve descrever segundo a experiência direta.<br />

O pensamento anfíbio do psicólogo arrisca-se sempre a<br />

reintroduzir em sua descrição relações que pertencem ao mundo<br />

objetivo. Assim, pôde-se acreditar que a lei de contigüi<strong>da</strong>de<br />

e a lei de semelhança de Wertheimer restauravam a contigüi<strong>da</strong>de<br />

e a semelhança objetivas dos associacionistas enquanto<br />

princípios constitutivos <strong>da</strong> percepção. Na reali<strong>da</strong>de,<br />

para a descrição pura — e a teoria <strong>da</strong> Forma quer ser uma<br />

descrição pura —, a contigüi<strong>da</strong>de e a semelhança dos estímulos<br />

não são anteriores à constituição do conjunto. A "boa<br />

forma" não é realiza<strong>da</strong> porque ela seria em si boa em um<br />

céu metafísico, mas ela é boa porque está realiza<strong>da</strong> em nossa<br />

experiência. As pretensas condições <strong>da</strong> percepção só se tornam<br />

anteriores à própria percepção quando, em lugar de descrever<br />

o fenômeno perceptivo como primeira abertura ao projeto,<br />

nós supomos em torno dele um meio onde já estejam<br />

inscritas to<strong>da</strong>s as explicitações e to<strong>da</strong>s as confrontações que<br />

a percepção analítica obterá, onde estejam justifica<strong>da</strong>s to<strong>da</strong>s<br />

as normas <strong>da</strong> percepção efetiva — ura lugar <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de, um<br />

mundo. Ao fazer isso, nós subtraímos à percepção a sua função<br />

essencial, que é a de fun<strong>da</strong>r ou de inaugurar o conhecimento,<br />

e a vemos através de seus resultados. Se nós nos atemos<br />

aos fenômenos, a uni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> coisa na percepção não é<br />

construí<strong>da</strong> por associação, mas, condição <strong>da</strong> associação, ela<br />

precede os confrontos que a verificam e a determinam, ela<br />

se precede a si mesma. Se caminho em uma praia em direção<br />

a um barco encalhado e a chaminé ou o mastro se confundem<br />

com a floresta que circun<strong>da</strong> a duna, haverá um momento<br />

em que estas partes se juntarão vivamente ao barco e se sol<strong>da</strong>rão<br />

a ele. A medi<strong>da</strong> que eu me aproximava, não percebi<br />

semelhanças ou proximi<strong>da</strong>des que enfim teriam reunido a su-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!