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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O CORPO 265<br />

se trata de distúrbios <strong>da</strong> intenção verbal, como na parafasia<br />

literal, em que letras são omiti<strong>da</strong>s, desloca<strong>da</strong>s ou acrescenta<strong>da</strong>s,<br />

e em que o ritmo <strong>da</strong> palavra é alterado, visivelmente não<br />

se trata de uma destruição dos engramas mas de um nivelamento<br />

<strong>da</strong> figura e do fundo, de uma impotência em estruturar<br />

a palavra e apreender sua fisionomia articular 35 . Se quisermos<br />

resumir essas duas séries de observações, será preciso<br />

dizer que to<strong>da</strong> operação lingüística supõe a apreensão de um<br />

sentido, mas que o sentido, aqui e ali, é como que especializado;<br />

existem diferentes cama<strong>da</strong>s de significação, desde a sig- cg<br />

nificação visual <strong>da</strong> palavra até sua significação conceituai, pas- ^j<br />

sando pelo conceito verbal. Nunca compreenderemos essas w, O<br />

duas idéias simultaneamente se continuarmos a oscilar entre © 2j<br />

a noção de "motrici<strong>da</strong>de" e a de "inteligência", e se não " §<br />

descobrirmos uma terceira noção que permita integrá-las, 3^ '<br />

uma lunçao, a mesma em todos os níveis, que opere tanto »s g;<br />

nas preparações escondi<strong>da</strong>s <strong>da</strong> fala como nos fenômenos ar- ° gticulares,<br />

que sustente todo o edifício <strong>da</strong> linguagem e que to- o £<br />

<strong>da</strong>via se estabilize em processos relativamente autônomos. Po- "§<br />

deremos perceber essa potência essencial à fala nos casos em ' Sí<br />

que nem o pensamento nem a motrici<strong>da</strong>de estão sensivelmente ,"'<br />

afetados e em que, to<strong>da</strong>via, a "vi<strong>da</strong>" <strong>da</strong> linguagem está altera<strong>da</strong>.<br />

Ocorre que o vocabulário, a sintaxe, o corpo <strong>da</strong> linguagem<br />

parecem intactos, à exceção de que nela predominam<br />

as proposições principais. Mas o doente não se utiliza<br />

desses materiais do mesmo modo que o sujeito normal. Ele<br />

quase só fala se o questionam, ou, se ele mesmo toma a iniciativa<br />

de uma questão, são sempre questões estereotipa<strong>da</strong>s,<br />

como as que todos os dias ele dirige aos seus filhos quando<br />

eles voltam <strong>da</strong> aula. Ele nunca usa a linguagem para exprimir<br />

uma situação apenas possível, e as proposições falsas (o<br />

céu é negro) não têm sentido para ele. Ele só pode falar se<br />

preparou suas frases 36 . Não se pode dizer que nele a linguagem<br />

tenha se tornado automática, não há nenhum sinal de

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