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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O MUNDO PER CEBIDO 351<br />

percepção não se dirige a um conteúdo de consciência: ela<br />

se dirige ao cinzeiro ele mesmo. A grandeza aparente do cinzeiro<br />

percebido não é uma grandeza mensurável. Quando me<br />

perguntam com qual diâmetro eu o vejo, não posso responder<br />

à questão enquanto conservo os dois olhos abertos. Espontaneamente<br />

fecho um olho, tomo um instrumento de medi<strong>da</strong>,<br />

por exemplo um lápis que seguro com o braço estendido,<br />

e marco no lápis a grandeza intercepta<strong>da</strong> pelo cinzeiro.<br />

Ao fazer isso, não se deve dizer apenas que reduzi a perspectiva<br />

percebi<strong>da</strong> à perspectiva geométrica, que mudei as proporções<br />

do espetáculo, que diminuí o objeto se ele está distante,<br />

que o aumentei se ele está próximo — é preciso dizer<br />

antes que, desmembrando o campo perceptivo, isolando o cinzeiro,<br />

pondo-o por si mesmo, fiz a grandeza manifestar-se naquilo<br />

que até então não a comportava. A constância <strong>da</strong> grandeza<br />

aparente em um objeto que se distancia não é a permanência<br />

efetiva de uma certa imagem psíquica do objeto que<br />

resistiria às deformações perspectivas como um objeto rígido<br />

resiste à pressão. A constância <strong>da</strong> forma circular em um prato<br />

não é uma resistência do círculo ao aplainamento perspectivo,<br />

e é por isso que o pintor que só pode representá-la por<br />

um traçado real em uma tela real espanta o público, embora<br />

ele procure tornar vivi<strong>da</strong> a perspectiva. Quando observo diante<br />

de mim uma estra<strong>da</strong> que foge para o horizonte, não se deve<br />

dizer nem que as margens <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> me são <strong>da</strong><strong>da</strong>s como<br />

convergentes, nem que me são <strong>da</strong><strong>da</strong>s como paralelas: elas são<br />

paralelas em profundi<strong>da</strong>de. A aparência perspectiva não está posta,<br />

mas o paralelismo também não. Através de sua deformação<br />

virtual, estou na estra<strong>da</strong> ela mesma, e a profundi<strong>da</strong>de é essa<br />

própria intenção que não põe nem a projeção perspectiva <strong>da</strong><br />

estra<strong>da</strong>, nem a estra<strong>da</strong> "ver<strong>da</strong>deira". — Entretanto, um homem<br />

a duzentos passos não é menor do que um homem a cinco<br />

passos? — Ele se torna menor se eu o isolo do contexto<br />

percebido e meço a grandeza aparente. De outra maneira,

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