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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O MUNDO PERCEBIDO 303<br />

ain<strong>da</strong> pela estrutura do conjunto. Um cego sabe exatamente,<br />

pelo tato, o que são galhos e folhas, um braço e os dedos <strong>da</strong><br />

mão. Após a operação, ele se espanta por encontrar "tanta<br />

diferença" entre uma árvore e um corpo humano 29 . É evidente<br />

que a visão não acrescentou apenas novos detalhes ao<br />

conhecimento <strong>da</strong> árvore. Trata-se de um modo de apresentação<br />

e de um tipo de síntese novos, que transfiguram o objeto.<br />

A estrutura iluminação/objeto iluminado, por exemplo,<br />

no domínio tátil só encontra analogias muito vagas. E por<br />

isso que um doente operado após dezoito anos de cegueira<br />

tenta tocar um raio de sol 30 . A significação total de nossa vi<strong>da</strong><br />

— <strong>da</strong> qual a significação nocional é sempre apenas um<br />

extrato — seria diferente se fôssemos privados <strong>da</strong> visão. Existe<br />

uma função geral de substituição e de troca que nos permite<br />

ter acesso à significação abstrata <strong>da</strong>s experiências que não vivemos<br />

e, por exemplo, permite-nos falar <strong>da</strong>quilo que não vimos.<br />

Mas, assim como no organismo as funções de substituição<br />

nunca eqüivalem exatamente às funções lesa<strong>da</strong>s e só dão<br />

a aparência <strong>da</strong> integri<strong>da</strong>de, a inteligência só assegura uma<br />

comunicação aparente entre experiências diferentes, e a síntese<br />

do mundo visual e do mundo tátil no cego de nascença<br />

operado, a constituição de um mundo intersensorial, deve<br />

fazer-se no próprio terreno sensorial, a comuni<strong>da</strong>de de significação<br />

entre as duas experiências não basta para assegurar<br />

sua sol<strong>da</strong> em uma experiência única. Os sentidos são distintos<br />

uns dos outros e distintos <strong>da</strong> intelecção, já que ca<strong>da</strong> um<br />

deles traz consigo uma estrutura de ser que nunca é exatamente<br />

transponível. Nós podemos reconhecê-lo porque rejeitamos<br />

o formalismo <strong>da</strong> consciência e fizemos do corpo o sujeito<br />

<strong>da</strong> percepção.<br />

E podemos reconhecê-lo sem comprometer a uni<strong>da</strong>de dos<br />

sentidos. Pois os sentidos se comunicam. A música não está<br />

no espaço visível, mas ela o mina, o investe, o desloca, e em<br />

breve esses ouvintes muito empertigados, que assumem o ar

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