12.04.2013 Views

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

184 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

pode ser um vidro colorido." Nesse momento, aproximam<br />

a caneta-tinteiro e viram o prendedor para o doente. Ele prossegue:<br />

"Isso deve ser um lápis ou um porta-caneta. (Ele toca<br />

o bolsinho de seu paletó.) Isso se põe aqui, para anotar algo."<br />

68 É visível que em ca<strong>da</strong> fase do reconhecimento a linguagem<br />

intervém fornecendo significações possíveis para aquilo<br />

que é efetivamente visto, e que o reconhecimento progride<br />

seguindo as conexões <strong>da</strong> linguagem, de "alongado" a "em<br />

forma de bastão", de "bastão" a "instrumento", <strong>da</strong>qui a<br />

"instrumento para anotar algo" e enfim a "caneta-tinteiro".<br />

Os <strong>da</strong>dos sensíveis limitam-se a sugerir essas significações,<br />

como um fato sugere ao físico uma hipótese; o doente, como<br />

o cientista, verifica mediatamente e precisa a hipótese pelo<br />

confronto dos fatos, ele caminha cegamente para aquela que<br />

os coordena a todos. Esse procedimento põe em evidência,<br />

por contraste, o método espontâneo <strong>da</strong> percepção normal, este<br />

tipo de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s significações que torna a essência concreta<br />

do objeto imediatamente legível, e que até mesmo só através<br />

dela deixa aparecer as suas "proprie<strong>da</strong>des sensíveis". E essa<br />

familiari<strong>da</strong>de, essa comunicação com o objeto que aqui está<br />

interrompi<strong>da</strong>. No normal, o objeto é "falante" e significativo,<br />

o arranjo <strong>da</strong>s cores imediatamente "quer dizer" algo, enquanto<br />

no doente a significação precisa ser trazi<strong>da</strong> de outro<br />

lugar por um ver<strong>da</strong>deiro ato de interpretação. Reciprocamente,<br />

no normal as intenções do sujeito refletem-se imediatamente<br />

no campo perceptivo, polarizam-no ou o marcam com<br />

seu monograma, ou enfim sem esforço fazem aparecer nele<br />

uma on<strong>da</strong> significativa. No doente, o campo perceptivo perdeu<br />

essa plastici<strong>da</strong>de. Se lhe pedem que construa um quadrado<br />

com quatro triângulos idênticos a um triângulo <strong>da</strong>do,<br />

ele responde que isso é impossível e que com quatro triângulos<br />

só se podem construir dois quadrados. Insiste-se fazendo-o<br />

ver que úm quadrado tem duas diagonais e sempre pode ser<br />

dividido em 4 triângulos. O doente responde: "Sim, mas é

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!