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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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64 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

Mais geralmente, ele é cego ao modo de existência e de coexistência<br />

dos objetos percebidos, à vi<strong>da</strong> que atravessa o campo<br />

visual e liga secretamente suas partes. Na ilusão de Zòllner,<br />

eu "vejo" as linhas principais inclina<strong>da</strong>s uma em direção<br />

à outra. O intelectualismo reconduz o fenômeno a um<br />

simples erro: tudo provém do fato de que faço intervir as linhas<br />

auxiliares e sua relação com as linhas principais, em lugar<br />

de comparar as próprias linhas principais. No fundo, eu<br />

me engano sobre a ordem, e comparo os dois conjuntos em<br />

lugar de comparar seus elementos principais 27 . Restaria saber<br />

por que me engano sobre a ordem. "A questão deveria<br />

impor-se: como acontece que seja tão difícil, na ilusão de Zòllner,<br />

comparar isola<strong>da</strong>mente as próprias retas que devem ser<br />

compara<strong>da</strong>s segundo a ordem <strong>da</strong><strong>da</strong>? De onde vem que elas<br />

se recusem assim a deixar-se separar <strong>da</strong>s linhas auxiliares" 28 ?<br />

Seria preciso reconhecer que, recebendo linhas auxiliares, as<br />

linhas principais deixaram de ser paralelas, que elas perderam<br />

aquele sentido para adquirir um outro, que as linhas auxiliares<br />

importam na figura uma significação nova que doravante<br />

ali vagueia e <strong>da</strong>li não pode mais ser destaca<strong>da</strong> 29 . É essa<br />

significação aderente à figura, essa transformação do fenômeno,<br />

que motiva o juízo falso e está, por assim dizer, atrás<br />

dele. É ela, ao mesmo tempo, que restitui um sentido à palavra<br />

"ver", para aquém do juízo, para além <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de ou<br />

<strong>da</strong> impressão, e faz reaparecer o problema <strong>da</strong> percepção. Se<br />

se admite chamar de juízo to<strong>da</strong> percepção de uma relação,<br />

e reservar o nome de visão à impressão pontual, então seguramente<br />

a ilusão é um juízo. Mas essa análise supõe, pelo<br />

menos idealmente, uma cama<strong>da</strong> de impressão em que as linhas<br />

principais seriam paralelas como o são no mundo, quer<br />

dizer, no meio que nós constituímos por medi<strong>da</strong>s — e uma<br />

operação segun<strong>da</strong> que modifica as impressões fazendo intervir<br />

as linhas auxiliares, e falseia assim a relação entre as linhas<br />

principais. Ora, a primeira fase é de pura conjectura

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