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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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246 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

e constituam um certo campo de ação disposto era torno, de<br />

mim. Da mesma maneira, não preciso representar-me a palavra<br />

para sabê-la e para pronunciá-la. Basta que eu possua<br />

sua essência articular e sonora como uma <strong>da</strong>s modulações,<br />

um dos usos possíveis de meu corpo. Reporto-me à palavra<br />

assim como minha mão se dirige para o lugar de meu corpo<br />

picado por um inseto; a palavra é um certo lugar de meu mundo<br />

lingüístico, ela faz parte de meu equipamento, só tenho<br />

um meio de representá-la para mim, é pronunciá-la, assim<br />

como o artista só tem um meio de representar-se a obra na<br />

qual trabalha: é preciso que ele a faça. Quando imagino Pedro<br />

ausente, não tenho consciência de contemplar um Pedro<br />

em imagem numericamente distinto do próprio Pedro; por<br />

mais distante que ele esteja, eu o viso no mundo, e meu poder<br />

de imaginar é apenas a persistência de meu mundo em<br />

torno de mim 7 . Dizer que imagino Pedro é dizer que arranjo<br />

para mim uma pseudopresença de Pedro desencadeando<br />

a "conduta de Pedro". Assim como Pedro imaginado é apenas<br />

uma <strong>da</strong>s mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des de meu ser no mundo, a imagem<br />

verbal é uma <strong>da</strong>s mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des de minha gesticulação fonética,<br />

<strong>da</strong><strong>da</strong> com muitas outras na consciência global de meu corpo.<br />

Evidentemente é isso que Bergson quer dizer quando fala<br />

de um "quadro motor" <strong>da</strong> evocação, mas, se representações<br />

puras do passado vêm inserir-se nesse quadro, não se<br />

vê por que elas precisariam dele para voltar a ser atuais. Só<br />

se compreende o papel do corpo na memória se a memória<br />

é não a consciência constituinte do passado, mas um esforço<br />

para reabrir o tempo a partir <strong>da</strong>s implicações do presente,<br />

e se o corpo, sendo nosso meio permanente de "tomar atitudes"<br />

e de fabricar-nos assim pseudopresentes, é o meio de<br />

nossa comunicação com o tempo, assim como com o espaço 8 .<br />

A função do corpo na memória é aquela mesma função de<br />

projeção que já encontramos na iniciação cinética: o corpo<br />

converte uma certa essência motora em vociferação, desdo-

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