07.04.2017 Views

Curso_de_direito_do_trabalho(2)

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

justa causa, embora esta não se <strong>de</strong>sfigure pelo cumprimento” 477.<br />

Não haverá convalidação da ilegalida<strong>de</strong> pela tolerância <strong>do</strong> emprega<strong>do</strong> (perdão tácito). Sabe-se que<br />

a iniciativa obreira na rescisão indireta fica tolhida pela sujeição ao emprega<strong>do</strong>r, máxime pelo temor<br />

da perda <strong>do</strong> emprego.<br />

Quanto a este tipo trabalhista específico, a <strong>do</strong>utrina consagrou o entendimento <strong>de</strong> que serviços<br />

ilegais, aqui, <strong>de</strong>vem ser interpreta<strong>do</strong>s no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> que “po<strong>de</strong>m configurar crime ou contravenção<br />

penal” 478. Lamarca, cita<strong>do</strong> por Giglio na obra referida, esclarece que a ilegalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve “residir no<br />

serviço em si”, citan<strong>do</strong> o exemplo <strong>do</strong> ourives que manda o emprega<strong>do</strong> substituir a pedra preciosa por<br />

uma falsa joia.<br />

C) Serviços ou or<strong>de</strong>ns contrários aos bons costumes<br />

O costume, como fonte <strong>de</strong> <strong>direito</strong>, se traduz na reiteração <strong>de</strong> <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> hábito com aceitação<br />

social. Explica Saad que “<strong>trabalho</strong> contrário aos bons costumes é aquele que ofen<strong>de</strong> a moral pública,<br />

como a venda <strong>de</strong> impressos da classe ‘pornô’ a menores” 479. O conceito <strong>de</strong> moral pública não é<br />

jurídico, pois pertence à sociologia. Tal noção varia <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a região e o momento histórico.<br />

O que é contrário aos bons costumes no interior <strong>do</strong> país po<strong>de</strong> não ser num gran<strong>de</strong> centro urbano. O<br />

que no passa<strong>do</strong> era tipo como <strong>de</strong>sonroso ou imoral hoje goza <strong>de</strong> maior aceitação social.<br />

Trata-se <strong>de</strong> hipótese <strong>de</strong> justa causa muito rara na prática, particularmente diante <strong>do</strong> aspecto<br />

subjetivo da avaliação <strong>do</strong> ato “contrário aos bons costumes”. Giglio cita a seguinte situação:<br />

Nas casas <strong>de</strong> tolerância, as mulheres que ali exercem a prostituição afrontam os bons costumes, mas as serventes, os porteiros,<br />

cozinheiros e garçons que ali prestam serviços, não. Justa causa, para estes últimos elementos, existiria se uma servente <strong>de</strong> hotel<br />

recebesse or<strong>de</strong>m para exercer o comércio amoroso com um <strong>do</strong>s hóspe<strong>de</strong>s 480.<br />

D) Serviços alheios ao contrato <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong><br />

O contrato <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> rege as relações entre emprega<strong>do</strong> e emprega<strong>do</strong>r, com as limitações<br />

impostas pela legislação trabalhista. Nas omissões <strong>do</strong> contrato <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> aparecem as maiores<br />

dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> interpretação quanto ao que po<strong>de</strong> ou não ser exigi<strong>do</strong> <strong>do</strong> emprega<strong>do</strong>, particularmente<br />

diante da informalida<strong>de</strong> que o caracteriza.<br />

O emprega<strong>do</strong> só se obriga a serviços compatíveis com sua função (neste senti<strong>do</strong> os arts. 447 e 456,<br />

parágrafo único, ambos da CLT). Fora <strong>de</strong>ste parâmetro, que diz respeito à natureza das or<strong>de</strong>ns que<br />

são direcionadas ao emprega<strong>do</strong>, há espaço para a rescisão indireta <strong>do</strong> contrato <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>. Pequenos<br />

<strong>de</strong>svios nas atribuições inicialmente pactuadas não ensejam resolução contratual por culpa <strong>do</strong><br />

emprega<strong>do</strong>r. O distanciamento entre o que foi combina<strong>do</strong> e as <strong>de</strong>terminações <strong>do</strong> emprega<strong>do</strong>r precisa<br />

ser relevante a ponto <strong>de</strong> configurar uma falta grave. Exemplificativamente, exigir <strong>de</strong> um secretário,<br />

eventualmente, que se pague uma conta pessoal, é um <strong>de</strong>svio que não importa em resolução<br />

contratual, salvo se o emprega<strong>do</strong>r tornar a excepcionalida<strong>de</strong> uma prática.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!