07.04.2017 Views

Curso_de_direito_do_trabalho(2)

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

tradicional em cada circunstância <strong>de</strong>terminava a conduta humana.<br />

Com o passar <strong>do</strong> tempo o costume foi per<strong>de</strong>n<strong>do</strong> sua importância em razão da constituição <strong>de</strong><br />

normas escritas, positivadas. Contu<strong>do</strong>, não se po<strong>de</strong> olvidar que a<br />

fonte substancial suprema <strong>do</strong> <strong>direito</strong> se encontra na consciência comum <strong>do</strong> povo, manifestan<strong>do</strong>-se, inicialmente, sob a forma <strong>de</strong><br />

costume, que, no dizer <strong>de</strong> Savigny, é indício exterior <strong>de</strong> <strong>direito</strong> positivo, ou melhor, o primeiro indício exterior <strong>de</strong> <strong>direito</strong><br />

positivo 116.<br />

Para a caracterização <strong>do</strong> costume como fonte <strong>do</strong> <strong>direito</strong> <strong>de</strong>vem ser observa<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is requisitos: um<br />

externo (elemento material ou <strong>de</strong> fato), que consiste no uso, no hábito, na prática reiterada <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>terminada conduta; outro interno (elemento psicológico), que consiste na convicção <strong>de</strong> que a<br />

observância da norma costumeira correspon<strong>de</strong> a uma necessida<strong>de</strong> jurídica (opinio juris et<br />

necessitatis), disto resultan<strong>do</strong> sua obrigatorieda<strong>de</strong> 117.<br />

Reiteração da conduta e necessida<strong>de</strong> jurídica, este é o binômio que caracteriza o costume.<br />

No <strong>direito</strong> anglo-americano o costume, <strong>de</strong>clara<strong>do</strong> pela jurisprudência, é fonte imediata <strong>do</strong> <strong>direito</strong><br />

comum. Nos sistemas <strong>de</strong> <strong>direito</strong> legislativo, como o nosso, ora o costume é admiti<strong>do</strong> como fonte<br />

supletiva (para suprir as lacunas das normas constituídas), ora rege as relações jurídicas diretamente,<br />

quan<strong>do</strong> o sistema normativo assim autoriza (o art. 5º, caput, da Lei n. 5.889/1973, prevê que o<br />

intervalo intrajornada <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r rural ocorrerá “observa<strong>do</strong>s os usos e costumes da região”).<br />

Na convivência com a lei po<strong>de</strong>-se classificar o costume como praeter legem, com caráter supletivo<br />

na omissão da lei; secundum legem, quan<strong>do</strong> seu preceito não previsto em lei é por ela reconheci<strong>do</strong>,<br />

ou quan<strong>do</strong> exterioriza o senti<strong>do</strong> da norma (função interpretativa); e contra legem, quan<strong>do</strong> cria uma<br />

norma contrária à da lei, ou produz a não aplicação da norma legal por seu <strong>de</strong>suso 118.<br />

Quanto ao costume contra legem, o projeto <strong>de</strong> Código <strong>de</strong> Aplicação das Normas Jurídicas, <strong>de</strong><br />

autoria <strong>de</strong> Harol<strong>do</strong> Valladão, previa a revogação da lei por força <strong>do</strong> costume, ou pelo <strong>de</strong>suso<br />

confirma<strong>do</strong> pela jurisprudência 119. O referi<strong>do</strong> projeto não se converteu em lei, <strong>de</strong> forma que no<br />

sistema jurídico brasileiro não se interpreta o costume como forma <strong>de</strong> revogação da lei.<br />

Maria Helena Diniz 120 reconhece que a maioria da <strong>do</strong>utrina rejeita o costume contra legem, mas<br />

admite a prevalência <strong>do</strong> costume sobre a lei em casos excepcionais, como o <strong>de</strong> <strong>de</strong>sajuste entre a<br />

realida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s fatos e o coman<strong>do</strong> normativo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que fundada na justiça.<br />

i) Doutrina e jurisprudência<br />

Não há dúvida que o pensamento <strong>do</strong>s estudiosos <strong>do</strong> <strong>direito</strong> tem um enorme papel na construção das<br />

<strong>de</strong>mais fontes formais. Contu<strong>do</strong>, a <strong>do</strong>utrina é <strong>do</strong>tada <strong>de</strong> um menor grau <strong>de</strong> objetivida<strong>de</strong>, ten<strong>do</strong> em<br />

vista sua própria origem, razão pela qual não possui força vinculante.<br />

Quanto à <strong>do</strong>utrina, muitos autores não a classificam como fonte <strong>do</strong> <strong>direito</strong>, conforme ensina<br />

Miguel Reale:

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!