20.05.2020 Views

GRECO, Rogério - Curso de Direito Penal Vol. 3

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

ROGÉRIO GRECO

VOLUME III

Hungria entendia que somente o comerciante e o comerciário poderiam

gozar esse status, uma vez que o tipo penal do art. 175 faz menção a exercício de

atividade comercial que, segundo o renomado penalista, "não quer dizer senão

exercício profissional de comércio, por conta própria ou de outrem".5

Em sentido contrário, afirma Noronha:

"Inútil a distinção entre atividade e ato, pois é certo que a

primeira se compõe da reunião, grupo ou coleção de atos.

Pratica o delito em espécie não só o comerciante estabelecido,

matriculado etc., como qualquer pessoa que pratique um

daqueles fatos, no exercício de atividade comercial. Essa

atividade não se caracteriza pela qualidade da pessoa, mas

pelo ato em si, pelo ato tomado em sentido objetivo".6

Entendemos que a razão está com Hungria. Pelo próprio nomen iuris da

infração penal, vale dizer, fraude no comércio, que indica a natureza do delito

a ser estudado, percebe-se que a qualidade de comerciante ou comerciário é

indispensável à sua configuração, tratando-se, pois, de crime próprio com

relação ao sujeito ativo.

Sujeito passivo, de acordo com a indicação legal, é o adquirente ou o

consumidor, dele não se exigindo qualquer qualidade ou condição especial,

cuidando-se, aqui, de crime comum.

5 . CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

A consumação do delito de fraude no comércio ocorre a partir do momento

em que a vítima percebe que recebeu mercadoria falsificada, deteriorada,

trocada etc.

Se, por exemplo, ao tentar fazer a entrega, a vítima percebe que se cuida,

por exemplo, de mercadoria falsificada, não a aceitando, o agente poderá ser

responsabilizado pela tentativa, haja vista tratar-se de crime plurissubsistente,

no qual é possível fracionar-se o iter criminis.

Assim, tendo em vista o fato de que o tipo penal do art. 175 se encontra

também no Título II do Código Penal, relativo aos crimes contra o patrimônio, e

considerando a sua classificação como crime material, temos que, somente quando

se efetivar a lesão no patrimônio da vítima, com o pagamento da mercadoria

falsificada, deteriorada, trocada etc., é que se pode ter por consumado o delito.

Caso isso não ocorra, será possível o raciocínio correspondente à tentativa.

HUNGRIA, Nélson. Comentários ao código penal, v. VII, p. 273.

' NORONHA, Edgard Magalhães. Direito penal, v. 2, p. 445.

286

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!