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GRECO, Rogério - Curso de Direito Penal Vol. 3

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RoGÉRJO GREco VOLUME 1 11

11. 9 . Médi c o que realiza exame de toque na vítima com intenção

libidinosa

Infelizmente, a imprensa tem noticiado situações em que médicos são

acusados de abusar de seus pacientes. Alguns desses casos foram, inclusive,

filmados. Os agentes, pervertidos, praticavam toda a sorte de atos sexuais com

suas vítimas, quase sempre adormecidas.

Suponha-se que o agente, médico ginecologista-obstetra, ao atender uma de

suas pacientes em seu consultório, nela realize, desnecessariamente, o exame

de toque, simplesmente com a finalidade de satisfazer sua libido. Nesse caso,

deveria responder pelo delito tipificado no art. 215 do Código Penal, com a nova

redação que lhe foi dada pela Lei nll 12.015, de 7 de agosto de 2009, que prevê

o comportamento de ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com

alguém, mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação

de vontade da vítima, haja vista que a fraude estaria demonstrada mediante a

comprovação da falta de necessidade do mencionado exame ginecológico.

É claro que a prova, no caso concreto, será extremamente difícil,

principalmente porque teremos de demonstrar, efetivamente, o dolo do agente.

No entanto, tecnicamente, será possível sua configuração.

11. 1 O. S ín d rome da mulher de Potifar (verossimilhança da palavra da

vítima)

O estupro, em geral, é um crime praticado às ocultas, isto é, sem a presença de

testemunhas. Nesse caso, como chegar à condenação do agente quando temos,

de um lado, a palavra da vítima, que se diz estuprada, e, do outro, a palavra do

réu, que nega todas as acusações proferidas contra a sua pessoa? Como ficaria,

nesse caso, o princípio do in dubio pro reo?

Devemos aplicar, in casu, aquilo que em criminologia é conhecido como

síndrome da mulher de Potifa r, importada dos ensinamentos bíblicos.

Para quem nunca teve a oportunidade de ler a Bíblia, resumindo a história

que motivou a criação desse pensamento criminológico, tal teoria foi originária

do livro de Gênesis, principalmente do capítulo 39, onde é narrada a história de

José, décimo primeiro filho de Jacó.

Diz a Palavra de Deus que Jacó amava mais a José do que aos outros irmãos,

o que despertava neles ciúmes e inveja. Certo dia, a pedido de seu pai, José foi

verificar como estavam seus irmãos, que tinham levado o rebanho a pastorear.

Ao avistarem José, seus irmãos, destilando ódio, resolveram matá-lo, depois de o

terem jogado em um poço, mas foram dissuadidos pelo irmão mais velho, Rúben.

No entanto, ao perceberem que se aproximava uma caravana que se dirigia ao

Egito, resolveram vendê-lo aos ismaelitas por 20 barras de prata. Ao chegar ao

Egito, josé foi vendido pelos ismaelitas a um egípcio chamado Potifar, um oficial

que era o capitão da guarda do palácio real.

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