20.05.2020 Views

GRECO, Rogério - Curso de Direito Penal Vol. 3

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

ROG ÉRIO GRECO VOLUME 111

Tem-se apontado a coletividade como sujeito passivo do delito previsto pelo

art. 229 do Código Penal, haja vista ser a moralidade pública sexual o bem por ele

juridicamente protegido. Alguns autores, a exemplo de Luiz Regis Prado,2 apontam,

também, como sujeito passivo aquele que exerce a prostituição nesses lugares.

Em sentido contrário, Guilherme de Souza Nucci aduz:

"A pessoa que se prostitui não é sujeito passivo, tendo em

vista que o ato em si não é considerado ilícito penal."3

5 . CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

Embora seja considerado um crime habitual, acreditamos que a consumação

ocorra com, por exemplo, a inauguração do lugar em que ocorra a exploração

sexual. A abertura de um bordel, a nosso ver, já configuraria a consumação

do delito, independentemente, até mesmo, de que algum casal já tenha ali se

relacionado sexualmente.

Assim, imagine-se a hipótese em que a polícia, informada sobre a inauguração

de uma luxuosa casa de prostituição, dirija-se até o local no exato instante

em que é aberta por seu proprietário, que havia levado a efeito o convite de

inúmeras autoridades para que conhecessem o seu novo local de exploração

sexual. Embora existam posições em contrário, não entendemos que o fato de

ser reconhecido como um delito habitual seria uma barreira para a prisão em

flagrante do mencionado proprietário.

O dolo de manter aquele local era evidente: a casa já estava aberta e preparada

para receber os "clientes". Que mais se deveria esperar para que se concluísse

pela prática da mencionada infração penal? O núcleo manter, segundo nosso

ponto de vista, já estava presente, razão pela qual poderíamos concluir pela

consumação do delito tipificado no art. 229 do Código Penal.

A questão, como já o dissemos, é polêmica. Cezar Roberto Bitencourt, por

exemplo, entende que:

"Este crime é habitual e permanente. Tratando-se de crime

habitual, por certo, a prática de um ou outro encontro 'amoroso'

é insuficiente para consumar o delito, cuja tipificação exige a

prática reiterada de condutas que, isoladamente, constituem

um indiferente penal."4

Apesar da força do raciocínio do renomado professor gaúcho, não podemos com

ele concordar. É certo que o tipo exige o animus da permanência, habitualidade,

mas, por outro lado, não requer, como dissemos, a prática de qualquer

comportamento libidinoso. Quando a lei faz menção a "estabelecimento em que

PRADO, Luiz Regis. Curso de direito penal brasileiro, v. 3, p. 281 .

NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado, p. 817.

BITENCOURT, Cezar Roberto. Tra tado de direito penal, v. 4, p. 94.

616

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!