13.04.2013 Views

QUILOMBO DO CAMPO GRANDE - Quilombo Minas Gerais

QUILOMBO DO CAMPO GRANDE - Quilombo Minas Gerais

QUILOMBO DO CAMPO GRANDE - Quilombo Minas Gerais

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

144<br />

<strong>QUILOMBO</strong> <strong>DO</strong> <strong>CAMPO</strong> <strong>GRANDE</strong><br />

HISTÓRIA DE MINAS QUE SE DEVOLVE AO POVO<br />

respeito (...) de sorte que nem se pagam (...) aos ditos dos<br />

seus trabalhos” 381 .<br />

Como se vê, as condições e formalidades para a obtenção<br />

de uma sesmaria excluíam completamente o acesso à terra<br />

aos pobres, principalmente se fossem pretos forros ou livres<br />

(negros, pardos, cabras, caribocas ou cafuzos etc.) e, ao mesmo<br />

tempo, permitia aos homens-bons poderosos amealharem<br />

50, 100 e até 200 léguas quadradas de terra. Os excluídos só<br />

tinham acesso à terra como escravos ou como agregados, equivalentes<br />

aos servos do sistema feudal.<br />

A coisa parece que nunca foi diferente. Em 1822, o<br />

sistema era ainda o mesmo do século XVIII; Auguste de Saint-Hilaire<br />

o registrou:<br />

“Os pobres, que não podem ter títulos, estabelecem-se<br />

nos terrenos que sabem não ter donos. Plantam, constroem<br />

pequenas casas, criam galinhas e, quando menos esperam,<br />

aparece-lhes um homem rico, com título que recebeu na véspera,<br />

expulsa-os e aproveita o fruto de seu trabalho. O único<br />

recurso que ao pobre cabe é pedir ao que possui léguas de<br />

terra a permissão para arrotear um pedaço de chão. Raramente<br />

lhe é recusada tal licença, mas como pode ser cassada<br />

de um momento para outro, por capricho ou por interesse, os<br />

que cultivam o terreno alheio e chamam-se agregados, só<br />

plantam grãos cuja colheita pode ser feita em poucos meses,<br />

tais como o milho e feijão. Não fazem plantações que só dêem<br />

ao cabo de longo tempo como o café. (...)” 382 .<br />

Por incrível que pareça, no final de século XX e começo<br />

do XXI as coisas ficaram piores: em lugar do “agregado”<br />

que pelo menos podia morar nas terras onde trabalhava,<br />

temos a figura do bóia-fria, habitante de favelas urbanas e carroçarias<br />

de caminhões. Quanto aos movimentos dos sem-terra<br />

de nossos dias, estes, segundo as elites genéticas e seus serviçais,<br />

não passam de arruaceiros organizados pelos comunistas.<br />

381 Verbete nº. 10591 do IMAR/MG, Cx. 142, Doc. 23, do AHU.<br />

382 Segunda Viagem do Rio de Janeiro a <strong>Minas</strong> <strong>Gerais</strong> e a São Paulo, p. 24.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!