13.04.2013 Views

QUILOMBO DO CAMPO GRANDE - Quilombo Minas Gerais

QUILOMBO DO CAMPO GRANDE - Quilombo Minas Gerais

QUILOMBO DO CAMPO GRANDE - Quilombo Minas Gerais

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

912<br />

<strong>QUILOMBO</strong> <strong>DO</strong> <strong>CAMPO</strong> <strong>GRANDE</strong><br />

HISTÓRIA DE MINAS QUE SE DEVOLVE AO POVO<br />

mais cruéis do que o próprio branco. Não se importavam em<br />

ser uma subespécie de homem-livre; enxergavam-se superiores<br />

aos pretos que ainda eram escravos e não sentiam por eles<br />

nenhuma solidariedade ou pena; os escravos, por sua vez, achavam<br />

uma grande injustiça haver pretos livres e, com isto,<br />

acabavam não se apercebendo da verdadeira injustiça que era<br />

o fato de eles mesmos serem escravos. De um lado, a falta de<br />

solidariedade; de outro, o ódio e a inveja: duas faces de uma<br />

mesma moeda a que convencionamos chamar de “efeito pardismo”.<br />

O fenômeno não é privilégio do Brasil. Na ilha de São<br />

Tomé, de maioria sudanesa, “Em 1707 os cônegos pardos pediram<br />

a el-rei que não permitisse que houvesse cônegos pretos;<br />

e estes mostraram que os pardos eram indignos do sacerdócio.<br />

Esta ninharia alterou por um modo incrível a tranqüilidade<br />

da Colônia” 2532 .<br />

Em Angola, onde Portugal sempre protegeu os pretos<br />

pumbeiros (negociantes de escravos 2533 ), Cunha Matos registrou<br />

em 1835 que “Como os negociantes brancos (nos sertões<br />

de Angola dá-se geralmente o nome de branco – não só à<br />

gente desta cor, mas também aos pardos e pretos livres, que<br />

andam calçados – o uso dos sapatos é que confere o direito a<br />

essa denominação e vem a ser um distintivo de honra) entravam<br />

nos sertões a fazerem comércio, muitas vezes comprometeram<br />

os seus patrícios em razão das violências que praticavam,<br />

e eram repelidos por outros deportados naturais” 2534 .<br />

Falando de Felipe Néri de Sousa, ou Felipe Mina, em<br />

São João da Chapada, nas <strong>Minas</strong> <strong>Gerais</strong>, Aires da Mata Machado<br />

Filho registra que “Esse preto singular era senhor de<br />

numerosos escravos e tinha-se na conta de branco. Quando<br />

castigava os seus negros, dizem que costumava advertir: 'A-<br />

2532 Compêndio Histórico das Possessões de Portugal na África, RJ, 1963, p. 124.<br />

2533 Negros corretores de compra de escravos, geralmente ladinos e descalços.<br />

2534 Compêndio Histórico das Possessões de Portugal na África, RJ, 1963, p. 257.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!