QUILOMBO DO CAMPO GRANDE - Quilombo Minas Gerais

QUILOMBO DO CAMPO GRANDE
HISTÓRIA DE MINAS QUE SE DEVOLVE AO POVO
nham terras riquíssimas já com grandes plantações e paióis
cheios de mantimentos. Além do mais, os pretos devem ter
recusado submissão aos homens-bons, recém-chegados e ávidos
de oficializarem vilas e de distribuírem entre si as datas
das minas de ouro descobertas pelo povo. Além disto, não poderia
uma região tão grande ficar habitada por pretos, mesmo
que fossem livres ou forros. Assim, todas as povoações podem
ter sido declaradas como “quilombos” e proscritas, conforme
se inscreveu na famosa Lei da Marca em “F” e sua regulamentação:
tinham que ser destruídas a qualquer custo!
A Carta da Câmara de Tamanduá, dirigida à rainha em
1793, quis passar a seguinte meia verdade: “O Campo Grande,
pelo seu retiro até então desconhecido pela falta de o haverem
entrado, aprazível e cheio de amenos rios e abundante
de esquisitos peixes e de imensas caças e de preciosos haveres
e de fertilíssimas terras de agricultura, havia grassado no
seu âmbito seio grande número de negros fugidos os quais
inquietavam os novos povoadores com crudelíssimas mortes,
façanhosos roubos e inconsideráveis hostilidades (...)” 1290 .
Alertávamos, ainda, na primeira edição, sobre as
abundantes evidências de uma questão de fronteiras e do pioneirismo
dos pretos, juntamente com paulistas, inclusive na
margem esquerda do rio Grande. Só não as viam, quem não
quisesse, argumentávamos: Mapas da Capitania de Minas
Gerais, a partir de 1760, dão a região do Sapucaí/Jacuí dentro
dos seus limites, a exemplo do mapa de José Joaquim da Rocha,
feito em 1778. No entanto, mapa da Capitania de São
Paulo, feito em 1791, insiste em apresentar a mesmíssima região,
como dentro de seus domínios. Enquanto o governo de
Minas sempre se referiu a “quilombos”, o Governo de São
Paulo, antes da perda e depois da recuperação da condição de
capitania, sempre se referiu a “novos descobertos” 1291 . Lem-
1290 História de Oliveira, p.36 e Revista do Archivo Público Mineiro, Ano II, 1897, p. 376.
1291 Ver mapa de 1791-2 in Autoridade e Conflito no Brasil Colonial: O Governo do Morgado de Mateus em
São Paulo, p. 238-239.
461