13.04.2013 Views

QUILOMBO DO CAMPO GRANDE - Quilombo Minas Gerais

QUILOMBO DO CAMPO GRANDE - Quilombo Minas Gerais

QUILOMBO DO CAMPO GRANDE - Quilombo Minas Gerais

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

194<br />

<strong>QUILOMBO</strong> <strong>DO</strong> <strong>CAMPO</strong> <strong>GRANDE</strong><br />

HISTÓRIA DE MINAS QUE SE DEVOLVE AO POVO<br />

viola, move-se o dançador no centro, avança e bate com a<br />

barriga de um outro da roda, de ordinário pessoa de sexo oposto.<br />

No começo, o compasso da música é lento, porém,<br />

pouco a pouco, aumenta, e o dançador do centro é substituído<br />

cada vez que dá uma umbigada; e assim passam noites inteiras.<br />

Não se pode imaginar uma dança mais lasciva do que esta,<br />

razão porque tem muitos inimigos, especialmente entre os<br />

padres. Assim, por exemplo, um padre negou a absolvição a<br />

um seu paroquiano, acabando dessa forma com a dança, porém,<br />

com grande descontentamento de todos. Ainda há pouco,<br />

dançava-se o batuque em Vila Rica numa grande festa na<br />

presença de muitas senhoras, que aplaudiram freneticamente.<br />

Raro é ver outra dança no campo, porém, nas cidades, as<br />

danças inglesas quase que substituíram o batuque” 520 .<br />

Durante quase todo o século XIX o batuque sobreviveu<br />

nas vendas e festas de gente pobre. Num determinado<br />

momento, passou a ser chamado pelos ricos despeitados de<br />

forrobodó. (Forro: de forro, ex-escravo; bodó: de bodum (buzum),<br />

cheiro de preto, ou de bode, cabra, mestiçado com negro).<br />

Esta festa de pretos e gentalha seria, hoje, o nosso forró<br />

521 . É mera invencionice a versão de que tal palavra teria alguma<br />

coisa a ver com os acampamentos dos ferroviários ingleses<br />

do final do século XIX.<br />

Um outro batuque, o batuque escondido que se fazia e<br />

dançava somente de noite nas capoeiras de mato, era um batuque<br />

de guerra, arte oculta, quilombola e proibida.<br />

Mas, voltando aos primórdios do batuque de festa,<br />

quando se realizava até altas horas da noite, com toda a sua<br />

maravilhosa indecência, “onde se cometiam muitas brigas e<br />

insolências, razão de muita cabeça quebrada e fato derramado”<br />

522 , no seu palco maior:<br />

520 Viagem ao Interior do Brasil, p. 114.<br />

521 Yeda Pessoa de Castro, em Falares Africanos na Bahia, p. 236, oferece a versão de que a palavra adviria<br />

do quicongo, fwo(fwo)mbanvó, grande forró, ou seja, arrasta-pé, algazarra, confusão.<br />

522 SESMARIA – Cruzeiro, o <strong>Quilombo</strong> das Luzes, p. 12.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!