QUILOMBO DO CAMPO GRANDE - Quilombo Minas Gerais

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QUILOMBO DO CAMPO GRANDE
HISTÓRIA DE MINAS QUE SE DEVOLVE AO POVO
Cada cabeça de calhambola morto valia seis oitavas de
ouro; 3.900 cabeças valeriam, portanto, 23.400 oitavas, ou
sejam, mais de 83 quilos ou 5,6 arrobas de ouro. Só por aí já
se vê que a operação renderia lucros incríveis.
Para receber o prêmio por calhambolas mortos, o usual
era a apresentação de suas cabeças, mas há casos em que se
apresentavam somente as orelhas.
No caso da guerra do Campo Grande, a conservação e
o transporte, por exemplo de 3.900 cabeças de calhambolas
mortos – aí sim - demandariam barris e mais barris de sal e
muitas e muitas cavalgaduras ou carroças. De forma que o
mais racional, ao invés de se carregar, por quatro meses, as
cabeças dos negros mortos, seria levar somente suas orelhas.
Pedro Taques garante que Bartolomeu não ganhou outro
prêmio a não ser a honra de servir ao rei, no entanto, temos
certeza de que os capitães-do-mato que o acompanharam não
trabalhariam de graça.
Pelos negros presos deveriam receber 20 oitavas de
ouro e pelos mortos, seis oitavas. “Em qualquer ocasião em
que com algum capitão-mor das entradas concorram quaisquer
capitães-do-mato, serão obrigados estes a obedecer-lhe
pontualmente, mas não em coisa alguma que encontre (contrarie)
o disposto neste regimento, e nas prisões dos negros a
cada um vencerá o salário que lhe tocar, sem serem obrigados
a dar reconhecimento ou porção alguma aos capitãesmores
das entradas” 2299 .
Assim, é evidente que as cabeças e/ou as orelhas dos
negros mortos, que valeriam mais de 83 quilos de ouro, e que,
por direito, pertenciam a quem os matasse, não iriam ficar jogadas
aos urubus. Estamos falando, volto a repetir, de mais de
83 quilos de ouro!
Portanto, ou Bartolomeu, consoante cláusula contratual,
teria avocado a si o controle - através das orelhas decepadas
- do número de negros mortos, para evitar brigas entre os
2299 A Negação da ordem Escravista, Ícone, 1988, p. 132, citando APM-SC-SG Cód.06 fls. 133 - 134v.