QUILOMBO DO CAMPO GRANDE - Quilombo Minas Gerais

QUILOMBO DO CAMPO GRANDE
HISTÓRIA DE MINAS QUE SE DEVOLVE AO POVO
gora num vai dizê que branco é mau'. O 'branco', no caso, era
ele próprio...” 2535 .
Outro exemplo de falta de solidariedade e ódio pela
própria ascendência negra é Chica ou Xica da Silva. Há fartas
notícias de que mandava arrancar os dentes ou cortar os seios
de negras bonitas; de que mandava, por mero prazer, chicotear
escravos e, aos mais apessoados e atrevidos, mandava castrar.
A sua cabeça raspada, sobre a qual usava uma peruca, é fato
muito estranho. Usar perucas era comum no século XVIII;
mas raspar a cabeça a navalha, não. Afora casos de doença ou
queda, não se conhecem casos de outras mulheres, brancas ou
pretas, que tenham feito tal coisa no Brasil colonial. É provável
que Xica da Silva fizesse isto para não ver em si mesma a
sua verdade étnica na forma do cabelo lanoso.
Agripa de Vasconcelos fez do seu “Chica que Manda”
um outro “samba histórico do crioulo doido”.
Mais recentemente, João Felício dos Santos, sobrinhoneto
de Joaquim Felício dos Santos, tratou de dar mais divulgação
a essa mistificação maquiavélica, com o seu Xica da
Silva. No afã de mistificar, João Felício esconde ou se equivoca
completamente sobre fatos incontestáveis, a exemplo de
que:
a) Xica teve 15 filhos; os dois primeiros, filhos de pais
também poderosos (um, intendente do Tijuco, e outro, rico
comerciante), chamavam-se Simão e Plácido 2536 ; os outros 13,
que teve com o contratador João Fernandes, foram: João, José,
Joaquim, Antônio, Francisca, Rita, Ana, Helena, Luíza,
Maria, Quitéria, Mariana e Antonia. Como poderia uma mulher
ter tido tantos filhos e, ao mesmo tempo, ter continuado
bonita como a personagem do romance e arranjar tempo para
2535 O Negro e o Garimpo em Minas Gerais, p.26.
2536 Júnia Ferreira Furtado, entende que o primeiro destes de que fala a tradição, seria Cipriano que, na verda-
de, era filho de uma homônima crioula, também escrava de Manoel Pires Sardinha, em Chica da Silva e o
Contratador de Diamantes, 1ª edição, ano de 2003, p. 52-53.
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