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II Simpósio- artigos agrupados Editado ate pagina 1035

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como “[...] uma parte da pele ou da mucosa em que certos tipos de estimulação<br />

provocam uma sensação prazerosa de determinada qualidade.”. Ele afirma que qualquer<br />

parte do corpo pode cumprir esse papel, a depender da construção de um hábito e não de<br />

uma determinação natural. Desse modo Freud retira o corpo da ordem estritamente<br />

biológica e anatômica ao afirmar que a qualidade do estímulo e o hábito é que são<br />

determinantes na produção da propriedade erógena, e não a suposta natureza corporal.<br />

Na pena de Freud, a natureza é subvertida pelos desejos inconscientes. Afinal o que<br />

significa dizer que a criança investiga seu corpo, e por hábito alça algumas partes à<br />

condição de zona erógena, senão que essa criança, através da experimentação, constrói<br />

seu próprio corpo erógeno?<br />

Avançando em suas investigações, o estatuto do corpo e da mente, que toca<br />

o cerne da dicotomia cartesiana, precisou ser profundamente reformulado. Isso será<br />

feito através do conceito de pulsão, definido como “[...] um conceito-limite entre o<br />

somático e o psíquico, como o representante psíquico dos estímulos oriundos do interior<br />

do corpo e que atingem a alma, como uma medida do trabalho imposto à psique por sua<br />

ligação com o corpo” (FREUD, 1915/2010, p.57). Designando os estímulos<br />

provenientes de um órgão ou de uma parte do corpo como a fonte da pulsão, Freud vai<br />

ser levado a reformular não só o estatuto do corpo e da mente, como também vai<br />

precisar consequentemente redefinir as relações que ambos estabelecem entre si. Essa<br />

redefinição vai tomar corpo e mente como entidades indissociáveis. É no momento de<br />

sua obra em que desenvolve as novas formulações que marcam a passagem para a<br />

‘segunda tópica’ que ele claramente vai afirmar: “O Eu é sobretudo corporal, não é<br />

apenas uma entidade superficial, mas ele mesmo a projeção de uma superfície. Ou seja,<br />

o Eu deriva, em última instância, das sensações corporais, principalmente daquelas<br />

oriundas da superfície do corpo” (FREUD, 1923/2011, p.32). Se aqui a definição do eu<br />

pode ser confundida com a definição do corpo não é à toa. O que Freud está fazendo é a<br />

subversão da dicotomia cartesiana pela via do Eu corporal. Porém, ao superar a<br />

dicotomia cartesiana e definir outro estatuto para o corpo e para o psiquismo, a<br />

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