II Simpósio- artigos agrupados Editado ate pagina 1035

mesmo moral. A palavra irá carregar a ideologia poética que o escritor quer perpassar
para um determinado público.
Em nosso caso, em específico, o público romano dos dois primeiros séculos
do período imperial, já que as obras utilizadas neste artigo são desse período de apogeu
do Império grecorromano. São elas: Satiricon, do poeta latino Petrônio; e Epigramas,
do poeta, também latino, Marcial.
No que diz respeito ao uso da palavra e seu feito ideológico, podemos partir
para o filósofo russo Bakhtin.
A palavra penetra literalmente em todas as relações entre indivíduos, nas
relações de colaboração, nas de base ideológica, nos encontros fortuitos da
vida cotidiana, nas relações de caráter político, etc. As palavras são tecidas a
partir de uma multidão de fios ideológicos e servem de trama a todas as
relações sociais em todos os domínios (BAKHTIN, 2009, p. 42).
A visão de Bakhtin nos possibilita pensar as palavras escritas por poetas
latinos como meios de penetrar na sociedade determinado modelo social, que não
deixam de ser ideológicos. Há, portanto, uma ideologia que o autor latino quer
perpassar ao remeter determinada palavra, em determinado contexto, para determinado
alguém. Em nosso caso, as palavras utilizadas por escritores da aristocracia do Império
romano são difundidas em contraposição a comportamentos do sexo feminino, isto é,
das matronas 154 romanas.
Palavras como adultério são postas em evidência pelo autor latino para
atacar atitudes do feminino. Logo, a palavra é utilizada em um contexto social que pode
remeter a uma ideologia de cercear as sociabilidades da mulher casada, haja vista no
período imperial as mulheres encontravam formas de galgar e manter relações sociais
fora da domus 155 .
Através das palavras usadas por escritores do Império romano, nós
poderemos perceber as mudanças sociais que estavam a acontecer em determinado
154 O termo “matronas”, na literatura latina,remete ao significado de “damas do lar”, ou seja, são as
mulheres que eram casadas, pertenciam a uma família da aristocracia romana e deveriam possuir filhos,
cuidar do lar e de seu esposo.
155 “Domus” remete ao ambiente do lar, literalmente ao espaço da casa.
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