28.02.2018 Views

II Simpósio- artigos agrupados Editado ate pagina 1035

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

para uma jovem dama da nobreza.[…] Mas Orlando não deu tais mostras de<br />

perturbação. Todos os seus atos foram extremamente comedidos, e até<br />

poderiam fazer pensar em certa premeditação. (WOOLF, 1978, p. 77)<br />

O incômodo sentido pela personagem devido à mudança só viria surgir<br />

quando, já performando no papel social de mulher, descobrira que as diferenças de<br />

tratamento e de comportamento a confrontavam com um abismo social. Deveria reter-se<br />

ou inserir-se.<br />

“É um fato estranho, porém verdadeiro, que até aquele momento ela pouco<br />

tinha se preocupado com o seu sexo.[...] somente quando sentiu a saia<br />

enrolando em suas pernas e o capitão oferecendo-se com grande polidez para<br />

mandar armar-lhe um toldo no convés que ela percebeu, sobressaltada, as<br />

desvantagens e os privilégios de sua posição.” (WOOLF, 1978, pg. 85)<br />

. Assim como ocorre na situação da personagem do romance de Woolf,<br />

Judith Butler (2003) mostra em sua teoria uma distinção que salienta a importância da<br />

problematização de questões referentes a sexo e gênero, e os papéis de gênero atribuídos<br />

ideologicamente a cada sexo, e por esse motivo precisam ser criticados e transgredidos.<br />

Butler criou a expressão “performatividade de gênero” para explicar que os<br />

gêneros masculino e feminino são construídos socialmente e para ser identificado como<br />

pertencente a um gênero, o indivíduo “performa” - homem senta assim, fala assim,<br />

gesticula assim. Para ser homem ou mulher o indivíduo tem que “performar” o padrão<br />

instituído<br />

Concebida originalmente para questionar a formulação de que a biologia é o<br />

destino, a distinção entre sexo e gênero <strong>ate</strong>nde à tese de que, por mais que o<br />

sexo pareça intratável em termos biológicos, o gênero é culturalmente<br />

construído: consequentemente, não é nem o resultado causal do sexo, nem<br />

tampouco tão aparentemente fixo quanto o sexo. Assim, a unidade do sujeito<br />

já é potencialmente contestada pela distinção que abre espaço ao gênero<br />

como interpretação múltipla do sexo.<br />

Se o gênero são os significados culturais assumidos pelo corpo sexuado, não<br />

se pode dizer que ele decorra, de um sexo desta ou daquela maneira. Levada<br />

a seu limite lógico, a distinção sexo/gênero sugere uma descontinuidade<br />

radical entre corpos sexuados e gêneros culturalmente construídos.<br />

(BUTLER, 2003, p. 24)<br />

1145

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!