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II Simpósio- artigos agrupados Editado ate pagina 1035

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Em um contexto em que a literatura ganhava ares combativos na Argentina,<br />

se almeja perceber como tal área se tornou uma das referências contra as restrições<br />

governamentais impostas por Perón.<br />

Como parte de um momento marcante na história argentina, a historiadora<br />

Maria Helena Rolim Capelato aponta que:<br />

Perón, embora alardeasse liberdade de expressão, procurou controlar as<br />

letras, estimulando a produção peronista e exercendo pressão direta e indireta<br />

sobre os opositores. Apesar disso, a produção literária vista no seu conjunto<br />

reflete os acirrados enfrentamentos políticos e indica a reação de literatos ao<br />

projeto de cultura oficial. Mesmo os escritores independentes, contrários aos<br />

engajamentos sociais e políticos, participaram da guerra de símbolos usando<br />

as mesmas armas dos adversários. (CAPELATO, 2009, pg. 126)<br />

Partindo dessa ideia, através da leitura do conto “Ônibus” presente no livro<br />

Bestiário de Júlio Cortázar, lançado em 1951 pela Editorial Sundamericana e publicado<br />

pela Revista “Los Anales de Buenos Aires”, dirigida por Jorge Luís Borges, escritor<br />

antiperonista, que pensava tal regime político como antidemocrático, assemelhando-se<br />

ao fascismo. No dado período, muito embora houvesse forte oposição de estudantes<br />

universitários e dos professores, Perón é reeleito e Cortázar se auto exila em Paris ao<br />

recebendo bolsa do governo francês.<br />

Conforme Félix Luna, Capelato pontua sobre a ida de Cortázar à Europa:<br />

Félix Luna considera que a cultura, durante o peronismo, foi mais atingida<br />

pelo tédio do que pelas perseguições. Afirma que Julio Cortázar foi para a<br />

Europa, em 1952, não por que o perseguissem, mas por que se aborrecia<br />

mortalmente com a cultura oficial. Segundo o autor, o governo tornou-se<br />

proprietário de todas as rádios, das principais revistas e dos principais diários,<br />

controlava a indústria cinematográfica e a teatral; exercia severa vigilância<br />

sobre esses setores, mas essas vigilância não se estendia aos livros, salvo<br />

exceções. No entanto, a existência de um Estado altamente politizado, que<br />

exigia lealdade e preenchia os espaços das expressões culturais maciças,<br />

provocava estreitamento dos territórios nos quais se poderia realizar,<br />

profissionalmente, a gente de Letras, artes e ciência. Luna apresenta uma lista<br />

de autores que abandonaram o país em busca de melhores condições de<br />

trabalho. (LUNA, 1985 apud CAPELATO, 2009, pg. 127).<br />

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