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II Simpósio- artigos agrupados Editado ate pagina 1035

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O organismo não é corpo, o CsO, mas um estrato sobre o CsO, quer dizer,<br />

um fenômeno de acumulação, de coagulação, de sedimentação que lhe impõe<br />

formas, funções, ligações, organizações dominantes e hierarquizadas,<br />

transcendências organizadas para extrair um trabalho útil. (DELEUZE;<br />

GUATTARI, 2012, p.24)<br />

Essa distinção é importante para compreendermos o alcance do que nos<br />

ensina Artaud, que através de sua obra precisou travar uma verdadeira batalha visceral<br />

entre linguagem e corpo, declarando guerra não exatamente aos órgãos, mas sim ao<br />

encarceramento dos órgãos em um corpo-organismo. A profundidade arrebenta a<br />

superfície desse corpo que não será apenas marcado pela linguagem, mas sim perfurado,<br />

invadido, soterrado, se deparando com a necessidade de criar um novo corpo e uma<br />

nova linguagem para sobreviver. Engajado em um projeto de auto engendramento, de<br />

reconstrução de si mesmo, Artaud nos convida a recriar a linguagem com o corpo e a<br />

partir do corpo. O corpo sem órgãos é para Artaud é um corpo que inventa uma<br />

linguagem física, capaz de falar desde a profundidade visceral de sua experiência.<br />

Limite imanente do corpo, o corpo sem órgãos é um conceito que viabiliza pensar a<br />

singularidade para além do sujeito ou da noção de eu na medida em que é ao mesmo<br />

tempo singular e impessoal, e sua impessoalidade lhe eleva à condição de possibilidade<br />

para a emergência de qualquer pessoalidade ou nome próprio. Dizer que o CsO é<br />

impessoal é o mesmo que dizer que ele rompe com as fronteiras do eu, da<br />

individualidade, inscrevendo-nos em outras territorialidades.<br />

É por isso que interessa-nos pensar o corpo sem órgãos como esse conceito<br />

limite, que permite articular a clínica e a política contemporânea em um só plano<br />

imanente, em consonância com a aposta freudiana que teve um papel fundamental no<br />

processo de desnaturalização do corpo biológico e pensou o mal-estar em íntima<br />

articulação com os problemas políticos que perpassavam a civilização de sua época. Por<br />

isso concordamos com Regina Neri (2003, p.41) quando ela afirma que:<br />

Para além do deb<strong>ate</strong> Édipo / Anti-Édipo, em que medida poderíamos<br />

considerar o Anti-Édipo — em sua potente afirmação de diferença — como<br />

um dos mais vigorosos agenciadores de linhas conceituais de intensidade<br />

presentes no texto freudiano?<br />

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