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II Simpósio- artigos agrupados Editado ate pagina 1035

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c<strong>ate</strong>goria de sujeito também será questionada e não sairá ilesa, já que é o correlato do<br />

dualismo aqui em questão.<br />

Chegando nesse ponto torna-se importante dialogar com outros autores que,<br />

a partir de Freud, puderam avançar dando ao corpo, ao psiquismo e concomitantemente<br />

ao sujeito, estatutos diferenciados na teoria e na prática psicanalítica. Para isso não<br />

podemos deixar de abordar a obra de Lacan. A crítica à c<strong>ate</strong>goria de sujeito e a profunda<br />

reformulação da c<strong>ate</strong>goria de corpo foi, sem dúvida, uma das grandes empreitadas<br />

desenvolvidas ao longo de seu ensino. Vale destacar a esse respeito um de seus<br />

primeiros textos, O estádio do espelho como formador da função do eu, onde a<br />

formação do eu é explicitada em sua relação de dependência do processo de<br />

constituição da imagem do corpo próprio e em sua diferença em relação a c<strong>ate</strong>goria de<br />

sujeito. Nesse texto Lacan (1949/1998, p.96) nega o dualismo cartesiano afirmando que<br />

sobre a função do eu, na experiência que dele nos dá a psicanálise, “[...] convém dizer<br />

que nos opõe a qualquer filosofia diretamente oriunda do Cogito”. Essa oposição se<br />

sustenta porque, tal como a psicanálise nos mostra, falta ao humano em seus primeiros<br />

meses de vida um esquema mental de unidade do corpo próprio que permita constituir<br />

um corpo enquanto totalidade organizada através de distinções como dentro e fora,<br />

individualidade e alteridade. Tal esquema adviria apenas a partir do décimo oitavo mês<br />

de vida, quando o humano se torna, através da mediação de um outro, um corpo<br />

unificado, que pode identificar-se e reconhecer-se em sua imagem. É apenas no<br />

momento do estádio do espelho que se formam as condições para que posteriormente<br />

ocorra o que Lacan (1949/1998, p.102) chama de “normalização dessa maturação a<br />

depender, no homem, de uma intermediação cultural”. Assim, com Lacan, podemos<br />

pensar a imagem unitária do corpo e sua suposta separação do eu como ficções, como<br />

normalizações que mascaram o corpo fragmentado e a constitutiva dependência do<br />

outro.<br />

Apesar de Lacan ter se tornado mais conhecido precisamente por sua ‘fase<br />

estruturalista’, onde a c<strong>ate</strong>goria de sujeito foi determinante, suas reflexões não pararam<br />

por aí, e para pensar o corpo para além das ficções imaginárias e simbólicas, precisou se<br />

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